quinta-feira, 6 de abril de 2017

Notas de Formação – Lição 3

Nesta postagem no blog Claras e Franciscos segue a Lição 3. 
Desejamos a todos e todas uma boa leitura.

Notas de Formação
Terceira Ordem da Sociedade de São Francisco (TSSF)
Região do Brasil
A série Notas de Formação destina-se aos formandos da TSSF para estimular a conversação e a reflexão entre os companheiros de formação, seja em grupo ou individualmente com um companheiro espiritual ou sacerdote. Para obter o máximo dessas Notas, mês-a-mês, aconselhamos anotar suas reflexões pessoais em um diário.
Lição 3: 
As duas Regras: a Regra da TSSF, a Regra Pessoal de Vida

O que há neste estudo?
Exploraremos os componentes da Regra da Ordem e a Regra Pessoal. Como cada elemento é vital. E como todas estas partes juntas nos lembram que ser uma Franciscana da Terceira Ordem liga a caminhada de fé pessoal a uma vida em comunidade.
Para começar a explorar
1. Como uma Regra Pessoal de Vida afeta a vida diária?
2. O que é desafiador viver com uma Regra? Algumas partes são mais desafiadoras do que outras?
3.Quais são alguns benefícios de viver com uma Regra?

Aprendendo com as Fontes Franciscanas
Francisco escreve uma Regra simples e pede ao Papa que a aprove.
Vendo o bem-aventurado Francisco que o Senhor aumentava cada dia o seu número, escreveu para si e para seus irmãos, presentes e futuros, com simplicidade e com poucas palavras, uma forma e Regra de vida, sendo principalmente expressões do santo Evangelho, pois vivê-lo perfeitamente era seu único desejo. Acrescentou, contudo, algumas poucas coisas, absolutamente necessárias para o andamento da vida religiosa. Por esse motivo foi a Roma com todos os referidos irmãos, desejando ardentemente que o Papa Inocêncio III confirmasse o que tinha escrito. Achava-se naquela ocasião em Roma o venerável bispo de Assis, Guido, que estimava muito São Francisco e todos os seus irmãos, e os venerava com particular afeto. Vendo ali São Francisco e seus Irmãos, e. desconhecendo o motivo, não gostou. Temia que quisessem abandonar sua terra, onde o Senhor já começara a fazer grandes coisas por meio de seus servidores. Gostava muito de ter esses homens de valor em sua diocese e esperava muito de sua vida e seus bons costumes. Mas quando soube a causa e compreendeu o verdadeiro motivo, alegrou-se muito no Senhor e lhes prometeu seu apoio e influência.
Tomás de Celano, Primeira vida, Cap. 13, par. 32

Sobre a necessidade de ser unido ao Espírito Santo
E todos aqueles e aquelas, enquanto assim fizerem e se perseverarem até o fim, repousará sobre eles o espírito do Senhor e neles fará habitação e morada. Assim serão filhos do Pai celeste, cujas obras fazem. E são esposos, irmãos e mães de Nosso Senhor Jesus Cristo. Somos esposos, quando no Espírito Santo, a alma fiel se une a Jesus Cristo. Somos irmãos, quando fazemos a vontade do seu Pai que está no Céu. Somos mães, quando O levamos no coração e em nosso corpo por amor e com consciência pura e sincera; geramo-Lo por santa operação que deve luzir em exemplo para os outros. 
São Francisco, Segunda Carta aos Fiéis 48-53

Bênção de Santa Clara para sua alma
Ao recebê-la, Santa Clara beijou a Regra e abençoou-se com estas palavras para sua própria alma: "Vai segura, porque tens uma boa escolta para a viagem. Vai, porque aquele que te criou também te santificou, e, custodiando-te sempre, como mãe a um filho, amou-te com terno amor."
Tomás de Celano, Legenda de Santa Clara de Assis, 46

Uma Leitura dos Princípios
Dia Treze: As Três Formas de Serviço
As terciárias desejam estar à imagem de Jesus Cristo, a quem nós servimos de três formas: pela Oração, pelo Estudo e pelo Trabalho. Na vida da Ordem como um todo essas três formas devem encontrar uma expressão plena e equilibrada, mas não se espera que todos os membros respondam da mesma maneira a cada uma delas. Cada maneira individual de servir varia de acordo com as habilidades e circunstâncias, mas a regra de vida pessoal do membro inclui todas as três formas de serviço.

Explorando mais profundamente:
O que é a Regra da Terceira Ordem da Sociedade de São Francisco?
A Regra da TSSF é compartilhada entre as terciárias e terciários pelo mundo inteiro. Há 5 províncias: Província Americana que inclui América do Norte, Sul e Central e a Índia Ocidental; Província Europeia, que inclui a Inglaterra e o resto da Europa mais Hong Kong; Província Ásia-Pacifica; Província do Pacifico; e Província Africana. Todos observam a Regra.
Conforme a Constituição da TSSF, seção 1.1.c, a Regra da Terceira Ordem consiste de três elementos: (1) Os Princípios, (2) As Constituições da SSF e TSSF, e (3) A Ordem para Admissões e Renovações.

Os Princípios capturam o etos do que a Ordem deve ser. Eles tem aquelas qualidades franciscanas às quais nos esforçamos conformar nossas vidas. Os Princípios incluem a Obediência Comunitária, uma oração curta e simples que nos lembra diariamente nosso compromisso pessoal á Ordem mundial. Nos lembra que nossa vida em comunidade é compartilhada com pessoas da mesma espiritualidade, embora com perspectivas diversas. 

As Constituições da SSF e TSSF definem a forma e prática da Terceira Ordem em reposta aos Princípios. Elas contém itens de interesse histórico e de procedimento. A Constituição da TSSF acrescenta uma Regra Pessoal de Vida.

A Ordem para Admissões e Renovações representa o laço individual à comunidade mais ampla.

A Regra da Terceira Ordem é a base da nossa vida em comunidade e é a expressão de nossa herança e visão da vida franciscana (cf. Const.1.1.d).


O que é a Regra Pessoal de Vida?
A Regra Pessoal de Vida é exigida e definida na Constituição da TSSF, tornando a Regra Pessoal um elemento constitutivo da Regra da Ordem. É o aspecto pessoal dentro dos marcadores comunais. A Constituição diz:
a) Cada membro da Terceira Ordem deve ter e manter uma Regra Pessoal de Vida.
b) O propósito da Regra Pessoal de Vida é interpretar e expressar os Princípios nas circunstâncias particulares da vida de cada Terciário.
c) A Regra Pessoal de Vida deve ser feita de acordo com os Estatutos da Província, levando em consideração os dons pessoais e qualidades de cada Terciário como também os outros deveres e responsabilidades que cada um pode ter.
d) A Regra Pessoal de Vida regularmente incluirá algum compromisso, claramente declarado, em cada uma das seguintes áreas: 1) Santa Eucaristia, 2) Penitência, 3) Oração Pessoal, 4) Autonegação, 5) Retiro, 6) Estudo, 7) Simplicidade, 8) Trabalho, 9) Obediência.
e) Como sinal do seu compromisso e renovação, os membros da Terceira Ordem renovarão o seu compromisso anualmente para viver de acordo com os Princípios tal como estes são expressados na sua Regra Pessoal de Vida.
f) A renovação anual é exigida como salvaguarda contra a membresia nominal e para dar oportunidade para que a Regra Pessoal de Vida seja revista, se for preciso.

Portanto, a Regra Pessoal de Vida está sujeita aos 3 marcadores da Regra da Ordem:
Interpreta os Princípios para aplicação pessoal.
É ordenada pela Constituição.
É renovada anualmente usando a Ordem de Admissões e Renovações.


Sua regra pessoal: um formulário no qual padronizar sua vida
A Regra Pessoal é uma oferta de amor a Deus. Ela apresenta uma métrica para modelar nossas vidas. É um meio que nos ajuda a viver como queremos viver: como seguidores de Jesus no Espírito de São Francisco e Santa Clara. Uma regra destina-se a orientar, estabilizar e crescer nossa jornada em Cristo. Uma regra mantém a pessoa apontada na direção certa, especialmente quando estressada, ou árida, ou não particularmente animada. Uma regra é um esboço do que um indivíduo se propõe fazer diária, semanal, mensal e anualmente.
Uma das tarefas da formação é ajudar o postulante ou noviço a aprender a escrever e viver uma Regra Francisclariana individual. O conteúdo de uma regra pessoal variará em ênfase com cada pessoa. Nós não temos uma única regra para todos. Temos o esboço básico de nove áreas que cada pessoa deve adaptar de forma concreta e específica às circunstâncias individuais e temperamento. Ao escrever uma regra, estabelecemos metas que podemos alcançar, metas que não são idealistas, mas sim razoáveis para que possamos realmente viver elas. Em todos os casos, a Regra nunca deve ser um fim em si mesma, mas sim uma ferramenta adaptada ao indivíduo que oferecerá um meio de formar uma vida holística equilibrada.
O que desejamos é buscar a alegria de servir a Jesus na Comunhão, na partilha do pão, na oração pessoal e comunitária, no estudo, no serviço ao próximo mais pobre, no respeito ao planeta e aos recursos naturais. Construir uma Comunidade Franciscana é fazer irmãos e irmãs que estejam neste mesmo espírito. A Regra é uma forma de nos tornarmos melhores para participar da nossa comunidade: esta sim se constitui como sinal salvífico (Sacramento) da presença do Senhor no mundo. 

A Regra
- chama-nos à liberdade, para abrir-nos alegremente ao novo; Nunca é rígida ou legalista.
-celebra que somos imperfeitos e sempre em necessidade de crescimento e formação.
- reflete quem somos individualmente e quem nos estamos tornando como francisclarianos com o objetivo de viver o Evangelho.
- cabe-nos sem ser tão apertada que nos torna desconfortável nem tão solta que é sem sentido.
- deve ser revista e alterada regularmente para refletir o crescimento e as circunstâncias em mudança.
- inclui as 9 áreas listadas na Constituição da TSSF enquanto reflete nossas circunstâncias particulares.
Convida o Espírito Santo para trabalhar em e através de nossas vidas.

A Regra da Terceira Ordem (Os Princípios, as Constituições, a Ordem para Admissões) em conjunto com a Regra Pessoal de Vida, são o foco do compromisso e renovação para todos os terciários (Const. 1.1.e).

Como obter os documentos: Todos os documentos estão na Companheira Devocional.
Os Princípios começam na página 12.
As Constituições começam na página 27.
A Ordem de Admissões e Renovações começam na página 125.
O Padrão para escrever a Regra Pessoal de Vida começa na página 41.
Você pode encontrar a Regra da TSSF no site www.tssf.org na seção espanhol e português.

Para Reflexão:
1.Sua regra é uma fonte de alimento espiritual? Se sim, explique como. Se não, o que precisa acontecer para torná-lo mais nutritivo?
2. Explique as áreas em sua vida onde você notou o crescimento no Espírito e desenvolveu novas maneiras de ver e ser desde a adoção de uma regra de vida.
3. Disciplina é um afinar interior do coração. Como sua vida reflete um afinar interior em direção a Cristo e à vida centrada no Evangelho?

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Notas de Formação – Lição 2

Nesta postagem no blog Claras e Franciscos segue a Lição 2. 
Desejamos a todos e todas uma boa leitura.

Notas de Formação – Lição 2
O Companheiro Espiritual
O que há neste estudo?
Exploraremos como o ideal francisclariano é alcançado apenas em comunidade e com o apoio de uma companheira espiritual, alguém que se identifique com a sua vocação, que não o julgue pelas suas lutas e o encoraje ao longo do caminho.

Para começar a explorar
1.Você tem atualmente um companheiro espiritual? Caso afirmativo, dar um exemplo de algo que ele ou ela ajudou você a entender, algo que a oração ou o estudo sozinho não iluminaram completamente. Caso que não, você vai buscar logo?
2. O que você espera do relacionamento com sua companheira espiritual?
3. Santo Aelred disse: "Aquele que permanece na 'amizade' permanece em Deus, e Deus nele" (1 João 4:16 parafraseado). Como pode manter o seu relacionamento centrado em Cristo?

Aprendendo com as Fontes Franciscanas
Da Forma de Vida
E depois que o Senhor me deu Irmãos, ninguém me mostrou o que deveria fazer, mas o próprio Altíssimo me revelou que eu deveria viver segundo a forma do Santo Evangelho.
Testamento
Da Correção
Bem-aventurado o servo que suporta advertência, acusação e repreensão de outro tão pacientemente como de si mesmo. Bem-aventurado o servo que, na repreensão, benignamente aquiesce, com reverência obedece, com humildade se confessa e da boa vontade a satisfaz.
As Admoestações de São Francisco, 22

Como S. Francisco recebeu o conselho de S. Clara e do Frei Silvestre
O humilde servo de Cristo S. Francisco, pouco tempo depois de sua conversão, tendo já reunido e recebido na Ordem muitos companheiros, entrou a pensar muito e ficou em dúvida sobre o que devia fazer, se somente entregar-se à oração, ou bem a pregar algumas vezes: e sobre isso desejava muito saber a vontade de Deus.
E porque a humildade que tinha não o deixava presumir de si nem de suas orações, pensou de conhecer a vontade divina por meio das orações dos outros.
Pelo que chamou Frei Masseo e disse-lhe assim: "Vai a Soror Clara e dize-lhe da minha parte que ela com algumas das mais espirituais companheiras rogue devotadamente a Deus seja de seu agrado mostrar-me o que mais me convém: se me dedicar à pregação ou somente à oração. E depois vai a Frei Silvestre e dize-lhe o mesmo".
Foi Frei Masseo, e conforme a ordem de S. Francisco, deu conta da embaixada primeiramente a S. Clara e depois a Frei Silvestre. O qual, logo que a recebeu, imediatamente se pôs em oração e, rezando, obteve a resposta divina, e voltou a Frei Masseo e disse-lhe assim: "Isto disse Deus para dizeres ao irmão Francisco: que Deus não o chamou a este estado somente para si; mas para que ele obtenha fruto das almas e que muitos por ele sejam salvos".

Obtida esta resposta, Frei Masseo voltou a S. Clara para saber o que ela tinha conseguido de Deus; e respondeu que ela e outra companheira tinham obtido de Deus a mesma resposta que tivera Frei Silvestre. Com isto tornou Frei Masseo a S. Francisco; e S. Francisco o recebeu com
grandíssima caridade e perguntou-lhe: "Que é que ordena que eu faça o meu Senhor Jesus Cristo?" Respondeu Frei Masseo: "Tanto a Frei Silvestre como a Soror Clara e à irmã, Cristo respondeu e revelou que sua vontade é que vás pelo mundo a pregar, porque ele não te escolheu para ti somente, mas ainda para a salvação dos outros".
E então S. Francisco, ouvindo aquela resposta e conhecendo por ela a vontade de Cristo, levantou-se com grandíssimo fervor e disse: "Vamos em nome de Deus".
Florezinhas 16

Uma Leitura de os Princípios
Dia Vinte e Seis – A Segunda Nota (continuação)
Portanto, nós ansiamos por amar a todos a quem estão ligados por laços de família ou amizade. Seu amor por eles e elas se desenvolve à medida que seu amor por Cristo se aprofunda.
Nós temos um amor e uma afeição especiais para com os demais membros da erceira Ordem, orando uns pelos outros individualmente e buscando crescer nesse amor. Nós estamos de guarda contra qualquer coisa que possa prejudicar este amor, e nós procuramos a reconciliação com aqueles de quem nós estamos separados. Nós buscamos ter o mesmo amor para com aqueles com quem temos pouca afinidade natural, pois este tipo de amor não se firma na emoção, mas é um elo firmado em sua própria união comum com Cristo.

Explorando mais profundamente: O Companheirismo Espiritual
Por que você precisa de uma Companheira Espiritual?
Para seguir Jesus, praticar uma disciplina Francisclariana, amar a Deus e a nossos vizinhos cordialmente, precisamos de um apoio, de um amigo, de restaurador de perspectiva, em resumo, de um guia.
O companheirismo espiritual tem que envolver toda nossa vida: nossas relações em nossas famílias e comunidades como também nossas relações com Deus em oração e ação. Uma companheira espiritual nos ajuda a nos ver como Deus nos vê, com nosso potencial ou forças e fraquezas, e a vermos o mundo e nossos irmãos e irmãs como Deus os vê, com necessidades físicas e espirituais.
Para companheiro, escolha alguém com quem você pode se encontrar regularmente, e que pode ser objetivo com você. Escolha alguém cujas sugestões você considerará seriamente quando elas conflitarem com as suas próprias. Lembre-se de que há muitos homens e mulheres leigos pensadores e devotos que podem servir como Companheiros Espirituais; eles não precisam ser clérigos. Sua companheira precisa saber o que você está tentando fazer e que ferramentas espirituais você usa na tarefa. Ele ou ela também precisa saber sua situação de vida, que demandas você tem e quais suas responsabilidades.

Um Companheiro Espiritual é alguém que é:
um apoio e companheira no caminho.
às vezes uma caixa de ressonância.
às vezes um catalisador, acelerando ou reduzindo a velocidade de reações, ajudando a nos transformar na pessoa que Deus quer que sejamos.
às vezes um guia, nos dirigindo pela névoa de nossas emoções, de nossa depressão, de nossa visão.
às vezes uma pedra de toque que testa nossas motivações ou intenções.
às vezes uma força que nos acalma, restabelecendo nosso equilíbrio quando problemas pessoais ou simplesmente a loucura de um mundo materialista transtorna nosso equilíbrio.

Ao escolher um Companheiro Espiritual, lembre-se de que ele ou ela:
● tem que entender seu compromisso com um Cristianismo radical do modo franciscano, uma vida de oração, disciplina, estudo e trabalho que produz humildade, amor e alegria.
● tem que ter humildade para ouvir e responder; é capaz de ouvir além do que as palavras dizem sem julgamento; não é autócrata.
● tem que ter conhecimento de si mesmo e seu próprio espírito; tem prática pessoal de oração.
● tem reverência para todas as criaturas de Deus e deseja o bem-estar delas e de você.
● tem disciplina de si mesmo e sabe respeitar fronteiras pessoais.

Com que frequência vocês devem se reunir?
Normalmente, uma vez cada mês, mas depende das circunstâncias individuais, trimestralmente pode ser suficiente. Confirmar com seu diretor de formação e sua companheira espiritual o que funciona o melhor para você e sua desenvolvimento no caminho francisclariano. A meta é manter uma relação aberta e saudável com o companheiro espiritual. Se você perceber que está demorando para se reunir com sua companheira espiritual, pergunte-se porquê.

Para Reflexão:
1. Agora, como você vê o relacionamento com sua companheira espiritual?
Que insight você ganhou ao estudar esta lição?
2. O que mais anima você em relação à seu companheiro espiritual? O que mais desafia você?
3. O que as seguintes palavras do cisterciense Thomas Merton significam para você? "O guia espiritual vale o seu sal se conduzir uma campanha determinada contra todas as formas de ilusão que se levantam da ambição espiritual e da autocomplacência que apontam para estabelecer o ego em glória espiritual." (Zen e os Pássaros do Desejo)

Notas para sua Companheira Espiritual
Conforme com a Constituição da TSSF, seção 4.1.a: Cada membro da Terceira Ordem deve ter um Companheiro Espiritual, que normalmente tem a seu vez o seu próprio Companheira Espiritual e aceita os ‘Princípios’ como a base da direção.
Os Companheiros Espirituais de terciário/as podem ter treinamento formal e longa experiência em direção ou nenhuma; eles podem ser clérigos, membros de ordens religiosas ou leigos. Onde quer que você esteja no largo espectro da direção, agradecemos sua vontade de ajudar. Sem companheirismo, todos corremos risco da autodesilusão e caímos na vala da jornada espiritual. Não há nada tão importante para nossa saúde espiritual como uma boa Companheira Espiritual. (De Um Guia Franciscano para Diretor Espiritual, TSSF, Província das Américas, Rev. Robert Goode, 1991. Revisado de 2000.)

Fundamentos para o Companheiro Espiritual se lembrar:
O companheirismo espiritual não é igual ao aconselhamento pastoral. Serve para ajudar um indivíduo a reconhecer e desenvolver uma relação pessoal mais profunda com Deus.
● Tudo o que é dito durante a companheirismo é confidencial e não deve ser compartilhado fora da relação.
● Manter o tempo com seu formando focalizado na direção mais do que em uma conversação casual é especialmente importante se seu dirigido também for seu amigo. Fixar e manter um tempo específico para começar e terminar o encontro e manter isto pode ajudar em guardar à parte o tempo social. (Uma hora normalmente é o mais correto.)
● Tudo na vida de seu formando refletirá sua relação com Deus. A vida religiosa de uma pessoa não é algo que possa ser separado da sua vida do dia-a-dia. Em geral, se as relações pessoais da pessoa estão fora de controle, assim será a relação da pessoa com Deus.
● Comece fazendo algumas perguntas. Como seu formando veio a procurar companheirismo espiritual? Como é a sua vida de oração? O que espera o seu formando da relação de direção? (Quais são suas próprias expectativas?)
● Você não tem que compartilhar a mesma espiritualidade para dirigir alguém, mas, se você se acha incapaz de se relacionar com a pessoa ou se sente incômodo, você pode sugerir que a pessoa procure outra companheira.
● Às vezes, o que não é dito é mais revelador do que o que é dito. Esteja atento quando assuntos estiverem sendo evitados, e não tenha nenhum medo de fazer perguntas pertinentes.
● Começar a sessão com uma oração ou alguns minutos de reflexão silenciosa pode ajudar estabelecer o foco.
● Tente fazer mais escutando do que falando. Compartilhar suas próprias experiências às vezes pode ser útil, mas pode se mostrar intimidante. Isso é algo que você terá que discernir por si mesmo.

* Em breve será publicada a Lição 3


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Notas de Formação TSSF Brasil

Notas de Formação – Lições 1 e 2
A Terceira Ordem, Sociedade de São Francisco (TSSF) - Região do Brasil - está lançando as Notas de Formação em duas partes, a Lição 1 e a Lição 2.
A Lição 1, a primeira parte das Notas de Formação consiste em explicar o que é a Terceira Ordem da Sociedade de São Francisco e como se dá o processo de Formação para as pessoas que desejam fazer parte da TSSF. O estudo inicia tratando sobre a vocação francisclariana, bebendo das fontes franciscanas, ou seja, buscando inspiração nos primeiros de São Francisco de Assis ou no que seus companheiros escreveram sobre sua vida.

Nesta postagem no blog Claras e Franciscos segue a Lição 1. 
Desejamos a todos e todas uma boa leitura.

Notas de Formação
Terceira Ordem, Sociedade de São Francisco (TSSF) - Região do Brasil

A série Notas de Formação destina-se aos formandos da TSSF para estimular a conversação e a reflexão entre os companheiros de formação, seja em grupo ou individualmente com um companheiro espiritual ou sacerdote. 
Para obter o máximo dessas Notas, mês-a-mês, aconselhamos anotar suas reflexões pessoais em um diário.


Lição 1: O Que é a Terceira Ordem, Sociedade de São Francisco e o que é o processo de Formação?
O que está neste estudo? Exploramos os começos da vocação franciscana, o que é a Terceira Ordem e o processo de formação que nos ajuda a realizar a nossa vocação pessoal dentro da comunidade TSSF.

Para começar a explorar
1. O que o atrai para a vocação franciscana?
2. Como você imagina viver por uma regra pessoal de vida e em comunidade, embora dispersa, como isso pode fazer diferença em sua vida diária?
3. Quais são as suas esperanças, perguntas e preocupações para começar o programa de formação para se tornar um/a terciário(a)?

Aprendendo com as Fontes Franciscanas

Uma Mensagem de Paz
"Ide, disse o doce pai aos filhos, anunciar a paz aos homens, pregai a penitência para a remissão dos pecados. Sede pacientes nas tribulações, vigilantes na oração, vigorosos no trabalho, modestos nos discursos, austeros nos costumes e agradecidos nos benefícios, pois, por tudo isto, vos está preparando um Reino eterno. E eles, prostrando-se, por terra, com humildade, diante do servo de Deus, receberam, com alegria de espírito, a ordem da santa obediência."
São Boaventura, Legenda Maior de São Francisco 3:7

Fazer conhecer suas necessidades entre si
E um manifeste ao outro com confiança a sua necessidade, para que se encontre o necessário e lhe seja servido. E cada qual ame e nutra seu Irmão assim como a mãe ama e nutre seu filho.
Regra Não Bulada (1221) Capítulo IX

Da Recepção dos Irmãos e Irmãs
Se alguém, por inspiração divina, querendo aceitar esta vida, vier aos nossos Irmãos, seja recebido benignamente por eles. E, se estiver firme para aceitar a nossa vida, cuidem-se muito os Irmãos de não se intrometerem nos seus negócios temporais, mas apresentem-no, quanto antes, ao seu Ministro.
Regra Não Bulada (1221) Capítulo II

Uma Leitura de os Princípios
Dia Quatro – O Objetivo (continuação)
Quando São Francisco encorajou a formação da Terceira Ordem, ele reconheceu que muitos são chamados a servir a Deus em espírito de Pobreza, Castidade e Obediência na vida diária (diferentemente da aceitação literal desses princípios como nos votos feitos pelos Irmãos e Irmãs das Ordens Primeira e Segunda). A Regra da Terceira Ordem tem como intenção permitir que as obrigações e condições da vida diária sejam conduzidas dentro deste espírito.

Explorando mais profundamente: Quem somos?
Francisco foi um ser humano carismático que refletia o amor de Cristo e vivia o Evangelho na sua vida. Quase todos que o conheceram o amaram e queriam seguir o seu caminho. A vocação franciscana estava aberta a todos e não estava limitada à vida celibatária dos sem-teto e pobres.
Francisco, rapidamente, viu que o povo que levava uma vida comum tinha sido chamado a servir a Deus com corações e vidas totalmente comprometidos. Assim, há mais de 800 anos, nasceram os Irmãos e Irmãs da Penitência.
As três expressões dentro da vocação franciscana, as Ordens Primeira, Segunda e Terceira, incorporam a trindade amorosa da co-igualdade e mutualidade. Na Comunhão Anglicana, a Primeira Ordem consiste dos Irmãos da Sociedade de São Francisco (SSF) e as Irmãs da Comunidade de São Francisco (CSF); a Segunda Ordem, as Irmãs da Comunidade de Santa Clara (CSCI); e os Irmãos e Irmãs da Terceira Ordem (TSSF). As Primeira e Segunda Ordens moram juntos nas suas comunidades particulares, enquanto a Terceira Ordem consiste de homens e mulheres nas caminhadas ordinárias de vida e moram na comunidade na dispersão. A expressão "Terceira Ordem" denota uma ordem religiosa que vive sob regra e votos, fora de um convento, geralmente sem hábitos ou trajes religiosos, na vida secular ordinária.
É um chamado específico: somos chamados a refletir o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo e seu amor incondicional em qualquer lugar em que sejamos chamados a servir.
Permanecemos uma “Ordem de Penitentes”, embora nos chamemos “terciários/as”, e nossos irmãos e irmãs católicos romanos se chamem de “franciscanos seculares.” A palavra “penitente” tem raiz na palavra grega metanoia: de se voltar (ou re-tornar) para Deus. Esse é o nosso primeiro foco como “penitentes”: estar sempre voltando nossas faces e nosso ser interior para nosso bem-amado Senhor. Nos esforçamos pela paz e unidade na família de Deus através do Evangelho vivendo segundo os modos de São Francisco. O primeiro foco é ordenar nossas próprias vidas, aprender a viver a Regra como indivíduos em uma comunidade dispersa. Esse é um processo de internalização e nos encontramos ordenando tudo em conformidade com o enfoque que nossa Regra requer. Isso acontece devagar e imperceptivelmente; com o passar do tempo, viver essa Regra se transforma de um esforço consciente a uma parte integrante do nosso ser. A Regra se torna nosso centro de orientação interior que permeia nossas ações e palavras. Formar nossa natureza espiritual por meio da vivência da regra de vida com responsabilidade à comunidade é uma antiga tradição. Qualquer regra, franciscana ou outra qualquer, geralmente inclui práticas diretas para conhecer melhor o Senhor (oração pessoal e estudo do Evangelho), para conhecer melhor a nós mesmos (oração pessoal, direção espiritual e auto-exame) e esforçar-nos para tornarmos plenos em Cristo (mais oração pessoal, penitência e negação de si mesmo).
Ao invés de trancar-se num mosteiro, Francisco saiu e abraçou o mundo inteiro com braços abertos – assim como seu modelo, o Cristo crucificado. Seu alcance se fundamentava nas insinuações do Espírito Santo que ele percebia em sua profunda vida de oração, e nos Evangelhos e na comunidade. E ele fazia todas as coisas com grande coração e muita alegria. Oração que leva à ação, generosidade e júbilo de espírito, cuidadoso discernimento e muita proximidade com os ensinamentos e exemplos do nosso Senhor Jesus Cristo devem caracterizar nossa maneira de ser no mundo, tal como caracterizavam an a Francisco.
Somos chamados a comunidade, assim como foi Francisco, embora geralmente não
moremos juntos. Somos chamados a orar, estudar e trabalhar para o reino vindouro de Deus. Somos chamados a conformar nossas vidas e valores ao modelo do Evangelho embora vivendo em nossas vidas particulares seculares.

Para Reflexão:
1. O que você vê como o aspecto mais desafiador de viver a vida religiosa ao exercer uma vida secular ordinária?
2. O que mais anima você em relação à sua regra pessoal? O que mais desafia você?
3. Que ação concreta você pode realizar agora em resposta ao que foi discutido nesta lição?

Passos no Processo de Formação:
Aspirante: Aqueles que se sentirem chamados a uma vida dentro da TSSF podem buscar admissão como Postulante, preenchendo o Questionário Pessoal e entregando-o ao Diretor de Formação junto com um esboço de sua Regra de Vida.
Postulante: O estágio de Postulante demora, normalmente, 6 meses. O Postulante deve procurar um Companheiro Espiritual para acompanhá-lo em sua jornada franciscana. Quando disponível, o Postulante participará regularmente do grupo de Formação local ou Fraternidade onde o Postulante vai aprender e refletir sobre a observância da sua Regra, e mais geralmente, sobre sua vida franciscana.
Noviço: Normalmente, seis meses ou mais depois da sua aceitação, o Postulante pode solicitar ao Diretor de Formação admissão como Noviço. A cerimônia de Admissão de Noviço iniciará o tempo do Noviciado. O Noviço fará o curso de treinamento prescrito pelo Diretor de Formação, normalmente sendo una continuação do programa do Postulante, para aprofundar seu entendimento da vida franciscana e a observância da sua Regra de Vida.

Nota: Um pedido de admissão para a TSSF de alguém que foi professo numa comunidade religiosa e dispensado destes votos, será feito ao Capelão que determinará, em consulta com o Diretor de Formação, um período de formação de não menos de doze meses, apropriado à situação do candidato. Com a aprovação do Capítulo, o candidato pode professar na Terceira Ordem.

Profissão: Normalmente, depois de pelo menos dois anos de noviciado, e ao ser convidado pelo Diretor de Formação, o Noviço entregará por escrito seu pedido para profissão ao Diretor de Formação. Cartas de apoio podem ser enviadas ao Diretor de Formação. O Diretor de Formação junto com o Capelão apresentarão o candidato ao Capítulo para eleição à Profissão. A cerimônia de Profissão marca o novo membro Professo, onde ele ou ela recebe a Cruz de Profissão e o Mandato de Profissão assinado. O membro Professo deve usar a cruz como o símbolo de membresia na Terceira Ordem.

Notas de Formação TSSF Brasil

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Tempo para a Criação - 1º de setembro a 4 de outubro

Tempo para a Criação 2016
Rezar e cuidar da criação
Pessoas cristãs de todo o mundo oram e cuidam da criação, juntas
Em 1989, a Igreja Ortodoxa proclamou o 1º de setembro como o Dia Mundial de Oração pela Criação, e, desde então, muitas outras igrejas cristãs se juntaram e o dia foi expandido para ser uma temporada, até 4 de outubro, na data da Festa de São Francisco de Assis.
O “Tempo para a Criação” tornou-se um evento ecumênico desenvolvido pelo Conselho Mundial de Igrejas, com o objetivo unir as igrejas num chamamento para observar e viver uma temporada de oração, reflexão sobre o cuidado e o uso justo dos dons da natureza que recebemos de Deus.
Mais recentemente, em 2015, após ter lançado a Carta Encíclica Laudato Si - Sobre o cuidado da casa comum, o Papa Francisco instituiu o 1º de setembro como o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. Cada vez mais a iniciativa do Dia ou da Temporada da Criação ganha força para conclamar as pessoas cristãs de todo o mundo a orar e cuidar da criação, juntas. Assim testemunhamos nossa fé no cuidado da criação e, da forma mais original e sincera, podemos louvar e bendizer o nome de Deus criador e defensor da vida.
O arcebispo de Cantuária, Justin Welby pediu aos anglicanos para se juntar aos cristãos em todo o mundo e tomar parte nesta campanha:
"O resultado da mudança climática não é potencialmente ruim, é potencialmente fatal, para os países e regiões do mundomais frágeis, e para os bilhões de pessoas que vivem nelas."
E o que pode ser feito durante o Tempo para a Criação?
Orar para que o Espírito Santo nos oriente nas palavras e ações em defesa da vida;
Montar equipe de planejamento de diaconia e cuidado da vida;
Procurar membros e lideranças de outras denominações cristãs em nossas cidades para propor um culto ecumênico, seguido de outras ações em conjunto. Provocar o diálogo;
Propor, marcar eventos que chamem atenção para a campanha Tempo para a Criação. Existem meios de divulgação e tudo o que for realizado, por menor que seja, é importante divulgar para contagiar mais pessoas a se somar e acreditar que é preciso orar e cuidar da criação juntos.Podem ser realizados eventos fora da data de 1º de setembro.Cada evento pode ser registrado no site <http://seasonofcreation.org>. Todo e qualquer evento que for organizado, visando a campanha, é importante que sejam convidadas pessoas para falar, orar e facilitar o debate, certificando-se de ter uma diversidade de denominações representadas, se possível.Seria importante que todo evento da campanha culminasse com uma chamada para ações concretas de continuidade. Lembre-se que é preciso avaliar e celebrar as realizadas.
AGIR PELA CRIAÇÃO: Além de orar, há uma necessidade urgente de medidas para combater a crise ecológica.
Fonte: Cristãos oram e cuidam da criação, juntos. (http://seasonofcreation.org)

Tempo para a Criação - (1º de setembro a 4 de outubro)
III Semana Franciscana da Diocese Meridional - (04 a 11 de outubro de 2016)

Retiro e Caminhada Ecológica – Caminhando com Clara e Francisco
Data: 08 de outubro de 2016
Local: municípios de Stº. Antônio da Patrulha e Caraá(entre Evaristo e Quebrada, próximo da nascente do Rio do Sinos)
Comunidades: Paróquia São Mateus, Ponto Missionário Emanuel e Missão do Advento.
Tema: Rezar e cuidar da criação, JUNTOS.

Movimento Francisclariano e TSSF - Diocese Meridional - IEAB

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Paz: fruto da Justiça, do Amor e da Integridade da Criação

por Pilato Pereira
Clara e Francisco de Assis marcam a história da humanidade como extraordinários referenciais de vida, especialmente para os dias atuais, quando nos propomos a lutar pela superação violência e construção sólida da paz.
São Francisco costumava saudar as pessoas com a saudação de paz e sempre anunciava, pregava a paz (1Cel 23, 7). Tanto que hoje temos o costume franciscano de saudarmo-nos uns aos outros com a saudação de “Paz e Bem!”, que também é pronunciada em várias línguas, expressando a universalidade do carisma franciscano (Pax et Bonum - Pace e Bene - Peace andAllGood - Paix et Bien - Paz e Bem - Paz y Bien). A Regra de vida da Ordem de São Francisco de Assis nos pede para sempre anunciar a paz (RB 3, 14). Mas não só anunciá-la da boca para fora e sim sermos portadores da paz, ser pacíficos (RB 3,12).
Francisco foi, sem dúvida, um construtor de relações de paz. Foi um pregador da penitência e da paz, como diz Celano: “Em todas as pregações, antes de propor aos ouvintes a palavra de Deus aos que estavam reunidos, invocava a paz dizendo: ‘O Senhor te dê a paz’. Anunciava-a sempre a homens e mulheres, aos que encontrava e aos que lhe iam ao encontro. Por esta razão, muitos que tinham desprezado a paz, como também a salvação, pela cooperação do Senhor abraçaram a paz de todo o coração, fazendo-se também eles filhos da paz, desejosos da salvação eterna” (1Cel 23, 6-8). Celano também fala dos primeiros seguidores, entre eles “Frei Bernardo, abraçando a legação - missão - da paz correu alegremente a traz do santo de Deus” (1Cel 24, 2).
Santa Clara, da mesma forma que Francisco, também tinha a paz como um valor em vida. Sempre procurava transmitir e comunicar palavras de paz (cf.BnC 4). E desejava a paz para si mesma, porque queria realmente ser portadora da paz. Pela oração cultivava a paz em sua alma (cf. LSC 46). Olhando para o modo de vida assumido por Clara e Francisco, temos a convicção que, para o carisma Francisclariano, a paz é fruto da justiça, do amor e da integridade da criação.
A verdadeira superação da violência acontece na medida em que vivemos uma vida de paz. Nos dias de hoje, a maioria das pessoas vive preocupada com a realidade de violência que, no Brasil, é considerada uma verdadeira epidemia. E as maiores vítimas são os jovens. Mais grave ainda é quando constatamos que esta violência está entranhada em nossas relações, gerando uma “cultura” da violência, do medo e da insegurança. Para superar esta violência precisamos construir uma “cultura da paz”, através de relações mais amorosas e solidárias em todos os ambientes em que convivemos.
A sociedade brasileira entrou no grupo das sociedades mais violentas do mundo. Hoje, o país tem altíssimos índices de violência urbana (violências praticadas nas ruas, como assaltos, sequestros, extermínios, etc.); violência doméstica (praticadas no próprio lar); violência familiar e violência contra a mulher, que, em geral, é praticada pelo marido, namorado e etc. Precisamos descobrir onde está a raiz do problema.
E diante do clamor pela busca de solução, o governo tem se precipitado muito e em geral vem usando ferramentas erradas e conceitos errados na hora de entender o que é causa e o que é consequência. A violência que mata e que destrói está muito mais para sintoma social do que doença social. Deve ser trata a causa da doença e não a doença em si. E, pelo que se tem constatado, não adianta apenas armar a segurança pública, lhes entregando armas de guerra para repressão policial se a “doença” causadora não for identificada e combatida na sua raiz.
Já é tempo de a sociedade brasileira se conscientizar de que, violência não é ação. Violência é, na verdade, reação. O ser humano não comete violência sem motivo. É verdade que algumas vezes as violências recaem sob pessoas erradas, (pessoas inocentes que não cometeram as ações que estimularam a violência). No entanto, as ações erradas existiram e alguém as cometeu, caso contrário não haveria violência.
Em todas as partes do Mundo as principais causas da violência são: o desrespeito, a prepotência, crises de raiva causadas por fracassos e frustrações, crises mentais (loucura consequente de anomalias patológicas que, em geral, são casos raros). Exceto nos casos de loucura, a violência pode ser interpretada como uma tentativa de corrigir o que o diálogo não foi capaz de resolver. A violência funciona como um último recurso que tenta restabelecer o que é justo, segundo a ótica do agressor. Em geral, a violência não tem um caráter meramente destrutivo. Na realidade, tem uma motivação corretiva que tenta consertar o que o diálogo não foi capaz de solucionar. Portanto, sempre que houver violência é porque, alguma coisa já estava, anteriormente, errada. É essa “coisa errada”, a real causa, é que precisa ser corrigida para diminuirmos, de fato, os diversos tipos de violências. Em primeiro lugar a superação da violência está na promoção ou melhoria do diálogo (Cf. DUTRA).
Quando o assunto é diálogo, temos um fato muito significativo na vida de Francisco de Assis, que é seu encontro com o Sultão em Damieta, Egito (cf. 1Cel 57; LP 37). Numa época de cruzadas dos cristãos contra os sarracenos, chamados de “cães” e “depravados”, que ocupavam a Terra Santa, Francisco assume postura de respeito e procura evitar combates. Acompanhado de um confrade, foi ao encontro do sultão Malik-el-Khamil, de forma desarmada, pacífica, com motivação evangélica, com humildade, como um enviado “do Deus Altíssimo”. No início os dois foram agredidos, mas o sultão ficou impressionado e acabou tratando-os com muita cortesia e afeição e até os convidando para que permanecessem no seu acampamento. Podemos dizer que Francisco encontrou no Sultão um “crente”, um irmão da fé no Deus único. O Sultão descobriu em Francisco um homem cortês, fraterno, um irmão e não um inimigo. No mesmo período (1219-1220), alguns seguidores de São Francisco vão ao Marrocos e em Marrakech, se apresentando como enviados do papa e pregam contra Maomé e acabam sendo mortos pelo próprio Sultão.
No caso de Francisco podemos dizer que, o que aconteceu, foi o milagre do diálogo fraterno, do respeito, da cortesia e do amor gratuito. É importante salientar que Francisco fez isso sem esconder sua identidade cristã e, ao mesmo tempo, se deixou evangelizar pelo Sultão. Depois voltou para Assis, a sua cidade, nutrindo profundo respeito pelos muçulmanos, inclusive, inserindo na primeira regra as orientações de como ir entre os “infiéis” (Rnb 16). Em Marrakech, com os frades que vão e são mortos pelo Sultão, aconteceu o embate, sem encontro com o outro, com o diferente. Mas no caso de Francisco, em Damieta, ali aconteceu o encontro, o milagre da aproximação fraterna que o livrou da morte (Cf. SCHWERZ).
Francisco e Clara estavam em comunhão com o doador da paz, eles também vivem uma forte conexão entre contemplação e paz. Como destaca Frei Nestor Inácio SCHWERZ, “no eremitério dos Carceri encontra-se uma inscrição com a frase: ‘Ubi Deus ibi Pax’, (‘Onde está Deus, aí está a paz’)”. Clara e Francisco cultivam a paz a partir do encontro com Deus. Clara é radical na vivência e busca da paz. Ela, inclusive, propõe para a organização da sua Ordem um método de exercício do poder serviço, tendo como pressuposto a paz. A forma de como deveria acontecer a eleição e o oficio da abadessa era de se primar pela unidade e pela paz. Era um acontecimento marcado pelo diálogo (cf. RSC 4,22-24), que é eficaz na edificação da paz.
Clara e Francisco de Assis nos ensinam que, através do diálogo fraterno e no exercício da justiça, do amor e da integridade da criação, é possível superar a violência e construir, de forma sólida, a paz que sonhamos. Paz e Bem!

Referência bibliográfica:
SCHWERZ, Frei Nestor Inácio Ofm. A Mística da Paz em Francisco e Clara Disponível em:
www.franciscanos.org.br/?p=24384
DUTRA, Valvim M. Causas da Violência no Brasil. Extraído do capítulo 9 do livro Renasce Brasil.

Pilato Pereira é noviço da Terceira Ordem da Sociedade de São Francisco (TSSF) e presbítero na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB); professor de Teologia e no magistério público estadual (RS); Bacharel em Teologia pela ESTEF de Porto Alegre; Licenciado em Filosofia pelo UNILASALLE de Canoas/RS; Pós-graduado em Espiritualidade e Ecologia pelo ITF de Petrópolis/RJ; Mestre em Teologia Sistemática pela PUCRS, com pesquisas nas áreas de Ecoteologia e Ecumenismo. Autor do livro “O Irmão dos Pobres: Antônio Cechin, uma biografia”. Porto Alegre: ESTEF, 2009. (www.pilatopereira.eco.br – pilatopereira@gmail.com)