terça-feira, 5 de setembro de 2017

Notas de Formação - 07

Terceira Ordem da Sociedade de São Francisco (TSSF)
Região do Brasil

A série Notas de Formação destina-se aos formandos da TSSF para estimular a conversação e a reflexão entre os companheiros de formação, seja em grupo ou individualmente com um companheiro espiritual ou sacerdote. Para obter o máximo dessas Notas, mês-a-mês, aconselhamos anotar suas reflexões pessoais em um diário.


Nesta postagem no blog Claras e Franciscos segue a Lição 7
Desejamos a todos e todas uma boa leitura.
Lição 7:
Personalizando a Regra Básica da Vida 
Dos Princípios: 
1. O Objeto: Construir uma Comunidade de Amor (Dias 1-4)
Revisão das Lições 1-6:

Nas seis primeiras lições, exploramos brevemente os alicerces da Terceira Ordem: nossos fundadores, história e requisitos de requerimento (companheiro espiritual, regra de vida). No próximo conjunto de Notas (7-16), exploraremos as áreas dos Princípios e suger

iremos formas para você fazer a Regra Básica para Postulantes em uma versão personalizada, que se ajuste a quem você é como membro único da ordem.

 O que há neste estudo?

             Nós exploramos a primeira área dos Princípios, o Objeto, que lemos nos dias 1-4, com o intuito de verificar como a idéia-chave de entrega pode nos abrir para amar mais em nossa vida diária e a vida da comunidade franciscana.

 Começando a explorar  

             1. Quando você ouve a palavra "entrega," quais são algumas das primeiras idéias que vêm à mente?

 2. Pense em um momento em que você se sentiu incompreendido. Qual foi a causa? Porquê você não conseguiu entender as outras pessoas envolvidas?

 3. Qual é um exemplo do seu egoísmo? Porquê é importante para você possuir essa idéia / coisa / pessoa? Como você pode relaxar seu controle sobre isso?


Da Regra Básica para Postulantes

 

1. O Objeto da Ordem: Construir uma Comunidade de Amor (Dias 1-4)

    Minha primeira prioridade é dizer SIM ao chamado de Deus e estar aberto ao movimento do Espírito Santo na minha vida.

    Especificamente, vou considerar como eu sou chamado a construir comunidades de amor a cada dia onde eu moro, trabalho e assisto à celebração religiosa.

    Procurarei ser um agente da paz, defender o que é bom para a criação e promover o bem-estar de todas as pessoas, incluindo eu mesmo.

    Cultivarei um coração grato e praticarei a resiliência (superando as dificuldades pessoais).

    Para construir um relacionamento com meus irmãos e irmãs na TSSF, buscarei oportunidades de companheirismo; rezar diariamente o Compromisso da Comunidade; contribuir financeiramente dentro dos meus meios para a Ordem; interagir responsivamente com meu companheiro espiritual; renovar meus votos anualmente; e respeitar as decisões do Capítulo.

Aprendendo com as Fontes Francisclareanas

 

Francisco despe-se na presença de bispo, pai e gente da cidade

            Diante do bispo, já não suportou demoras e nada o deteve. Nem esperou que falassem, nem ele mesmo disse nada. Despiu-se imediatamente, jogou ao chão suas roupas e as devolveu ao pai. Não guardou nenhuma peça de roupa, ficou completamente nu diante de todos. O bispo, compreendendo sua atitude e admirando seu fervor e sua constância, levantou-se e o acolheu em seus braços, envolvendo-o na capa que vestia. Compreendeu claramente que era uma disposição divina e percebeu que os atos do homem de Deus que estava presenciando encerravam algum mistério.

            Tornou-se, desde então, seu protetor, favorecendo-o, confortando-o e abraçando-o com caridade. É aqui que o nu luta com o adversário nu e, desprezando todas as coisas que são do mundo, aspira apenas a justiça de Deus. Foi assim que Francisco tratou de desprezar a própria vida, deixando de lado toda solicitude, para encontrar como um pobre a paz no caminho que lhe fora aberto: só a parede da carne separava-o ainda da visão celeste.                                                                                                       —1Cel 6.15, 1-7

 

 

Apropriar tudo para Deus

            Não é de admirar que São Francisco tivesse essa conversa com o bispo de Assis, o qual lhe disse: "Acho sua vida difícil demais, muito áspera. Você não possui nada no mundo." "Meu Senhor", Francisco respondeu, "Se tivéssemos bens, precisaríamos de armas para defendê-los".

            Não é de admirar, também, que São Francisco proibiu os irmãos de terem moradias próprias, e de não apropriar nada para si. Tudo deveria ser considerado empréstimo de Deus, do Grande Doador de Esmolas, e os irmãos deveriam tratar todas as coisas criadas, animadas e inanimadas, como bons donativos de Deus que se tornam malvados por nossa própria cobiça e possessividade. Não é que uma coisa individual em si mesma seja má, mas nossas apropriações dela como se fosse nossa, sem referência ao Deus que a criou, que a mantém na existência e que a santifica. Para São Francisco, todas as coisas devem ser tratadas com reverência e com referência ao seu criador, através delas devemos oferecer louvor e ação de graças a Deus.                                      

                        --Murray Bodo, Entrando em Assis (cf. A Lenda dos Três Companheiros, 14:35)


Clara proíbe possuir propriedade

         E como eu sempre fui solícita com minhas Irmãs, na observância da santa pobreza que ao Senhor Deus e ao bem-aventurado Francisco prometemos guardar, assim sejam obrigadas as abadesas que me sucederem no cargo e todas as Irmãs a observá-la inviolavelmente até o fim: isto é, a não aceitar nem ter posse ou propriedade nem por si, nem por pessoa intermediária, e nem coisa alguma que possa com razão ser chamada de propriedade, exceto aquele tanto de terra requerido pela necessidade para o bem e o afastamento do mosteiro. E essa terra não será trabalhada a não ser para a horta e a necessidade delas.                                                                       Regra de Santa Clara, 6, 10-15

 

 

Sobre a oblação

            E tendo preterido totalmente todos aqueles que, neste mundo falaz e perturbador, enganam seus cegos servidores, ama inteiramente só Aquele que se entregou todo por teu amor....               —Terceira Carta de Santa Clara a Santa Inês de Praga (3CCL), 15

 

Uma Leitura de Os Princípios

 

Dia Dois – O Objetivo (continuação)

Pelo exemplo de seu sacrifício pessoal, Jesus revela o segredo de como produzir frutos. Ao se entregar a si mesmo à morte, ele se torna a fonte de nova vida. Da terra erguido sobre a cruz, ele atrai todos a si. A busca ansiosa pela vida leva a própria vida ao seu declínio; a vida que é dada livremente é eterna.

 

 Explorando mais a fundo

 

Oblação

         O Objeto é o presente, ou oblação, do eu, do corpo-mente-alma, para Deus. A oblação reza: "tudo o que eu sou e tudo o que tenho é teu, Senhor. Usa-me para suportar tua luz e amor em tudo o que eu digo e faço e sou." Somos convidados a deixar as distrações de nossas vidas, internas e externas, a tornarmos acessíveis ao Deus falando para nós, para nossos corações e para o funcionamento do Espírito Santo dentro e através de nós. Para que Deus possa entrar, devemos desistir da nossa ilusão de controle. Isso exige ficar em um lugar de vulnerabilidade, a qual a autora Brené Brown descreve como "a vontade de ficar ‘inteiramente por dentro,’ mesmo quando você sabe que pode falhar e se machucar.” É a vontade de abandonar a certeza, arriscar aquilo que é desconhecido, ser de coração aberto. Entregar-se é nada menos que ter a coragem de deixar-se a si, e deixar entrar a Deus.

         A auto-entrega custa tudo. E qual a recompensa? Vida em Deus: paz, amor, bondade. E, no entanto, isso não garante nada segundo os padrões mundiais. Continuaremos a sofrer. Continuaremos a duvidar. Continuaremos a nos perguntar "e agora, quê?". A diferença é que a ansiedade da incerteza é substituída pela paz, a defesa contra as ameaças percebidas é substituída pelo coração aberto, o reinado do mal é substituído pela bondade arrasadora.

            O problema é que não sabemos como é o reino de Deus até chegarmos lá. Onde ou o que é não pode ser conhecido a distância. Quê distância? Fica longe? Não, fica perto, muito perto. Fica por dentro, em nossa mente, em nosso coração. Ainda assim, a viagem será árdua porque temos dedicado toda uma vida em proteger o íntimo de nosso ser.

            A única maneira de “chegar” é, paradoxalmente, afastar-nos, sair da frente, ceder o passo a Deus, oferecendo-nos em oblação. Talvez apareça que não estamos fazendo nada, mas é precisamente esse não-fazer que permite a Deus nos tocar como se fôssemos instrumento musical.

            Você alguma vez foi ver o médico para manipulação de um braço ou perna? A pior coisa que você poderia fazer seria “ajudar” o médico no movimento. O médico não nos pode sarar se “ajudamos.” Nossa tarefa é relaxar e deixar trabalhar o médico. Assim é com Deus. Nossa tarefa é desistir “ajudando” e deixar que Deus nos toque. Daí seremos instrumento de Deus. Daí nossas vidas serão orar sem cessar.

            Resumindo: temos que desarmar todo aquele aparelho de segurança que construímos a través das décadas para proteger-nos, as cordas, as polias, as redes, e entregar-nos, completamente nus, à vida plena em Cristo.

 

Vamos ficar nus

         Quando Pietro Bernardone desafiou publicamente seu filho, Francisco não lutou, não se defendia. Em vez disso, o jovem literalmente tirou toda sua roupa na praça pública. Ele desarmou aqueles que o acusavam, primeiro em se desarmando a si mesmo. Francisco entendeu que a pobreza evangélica não é uma luta, não é algo para conseguir, mas sim uma questão de entrega completa e total a Deus. E é um negócio arriscado porque não sabemos como vai acabar. Entrega significa desistir de controlar, e quem sabe o que pode acontecer se não temos controle!

            A vulnerabilidade que acompanha a nudez é o que buscamos para nos entregar a Deus. Poucos de nós somos capazes de tirar a roupa de uma vez, aqui e agora, ante todo mundo, mas podemos começar uma prática lenta e consistente tirando pouco a pouco. Cada peça que tiramos nos leva um passo mais perto do coração de Deus.

         Na Lição 4 destas Notas de Formação, consideramos o caminho francisclariano da Pobreza Evangélica. Não é que busquemos a pobreza, mas sim que a pobreza é o meio para um coração aberto e compassivo. Quanto menos coisas nós temos, mais nos rendemos. "Coisas" naturalmente incluem bens, mas não esqueça que nossas idéias, dogmas, padrões, podem ser impedimentos ao nosso relacionamento com Deus e com os outros.

            Francisco e Clara são nossos exemplares, nossos professores. E o que eles ensinam? Que cada momento, todos os dias, é uma oportunidade de se render completamente e de forma decisiva, ou até o máximo que pudermos naquele momento, ao amor. Nas palavras de Santa Clara na carta a Inez: "Coloca a tua mente diante do espelho da eternidade! Coloca tua alma no brilho da glória! E transformar todo o teu ser ... através da contemplação" (12-13). Ou nas ações de São Francisco: fica nu.

            Eloi Le Clerc, em seu livro, Retorno aos Evangelhos, escreveu que "Clara fez Francisco compreender que a paz de coração era a maior forma de pobreza, a paz que vem da entrega total de si mesmo a Deus." Clara, como Francisco, sempre colocou o evangelho primeiro. Isso permitiu a misericórdia de Deus e a minoria do eu moldarem sua visão do mundo. O "privilégio da pobreza", que Clara procurava e obteve do Papa, tinha menos a ver com bens materiais e mais com o caminho da misericórdia e da vulnerabilidade. Portanto, seguindo as instruções de Jesus para nós, devemos dar a Deus as coisas que são de Deus. Nós pertencemos a Deus e em Deus vivemos, nos movemos e temos nosso ser. É lá onde encontramos a nossa verdadeira identidade como pessoas amadas e feitas por Deus; e tão pronto para amar os outros.

 

 

Ação ministerial

 

         No confronto, uma das pegadas mais úteis é aquela que você leva para trás. Quando você se encontra em um momento difícil com alguém, dê um passo atrás. Respire e pergunte:

 

+ Como posso ver isso de forma diferente?

                                               - estou culpando o outro? posso apontar o dedo pra mim?

                                               - Preciso reconhecer o mérito do outro?

            + O que eu preciso largar?

                        - a opinião dos outros?

                        - a necessidade de estar certa?

                        - uma idéia de quem eu acho que sou?

                        - alguma necessidade ou emoção interna que bloqueie meu coração?

            + Estou me defendendo da vulnerabilidade?

                   - eu preciso estar no controle?

                        - Temo o desconhecido?

Finalmente, agradeça pelo momento, solte e relaxe no amor de Deus.

 

Para Reflexão:

 

1. Que ação concreta você precisa tomar para ser mais aberto ao Caminho de Deus em vez do caminho de você? Existe uma prática que você pode adotar diariamente para promover a auto-entrega ao Amor?

 

2. Descreva um momento em que você pulou para fazer ou dizer algo sem confiança, quando esse “algo” parecia arriscado. Como acabou? Você sentiu a ação de Deus nessa experiência? Explicar.

 

3. Com quais práticas eu me envolvo no dia a dia para me responsabilizar por minha regra de vida?

 

Uma nota sobre Fidelidade

            Os elementos da Fidelidade (Obediência) e as marcas de adesão na TSSF se encaixam bem nesta seção da regra, O Objeto, porque eles mostram compromisso com a comunidade que devemos criar e sustentar. Esses elementos incluem: contribuição financeira, renovação anual de votos, relatórios regulares, dizendo a Obediência Diária. Outros elementos podem ser incluídos em outros lugares, Santa Eucaristia, reconciliação em 5. Oração; e companheirismo espiritual e retiro em 8. Humildade ou 9. Amor.

           

Personalize sua Regra     

 

            Depois de lidar com esta lição, quais mudanças ou adições você pode fazer para 1. O Objeto da Regra Básica da Vida (veja a pagina 2. acima; ou para 9. Fidelidade (Obediência) é que você está vivendo pela regra tradicional de 9 pontos) para torná-lo mais adequado às suas circunstâncias particulares? Discuta com seu companheiro/a espiritual.

O que você precisa fazer para se jugar mais a Deus e a Comunidade, e menos a si?