Os Princípios descrevem três
características, ou atributos, dos membros da Terceira Ordem e da comunidade da
Sociedade de São Francisco: humildade, amor e alegria. Esta lição explora a Primeira Nota,
Humildade. Exploraremos o que significa dizer que Francisco e Clara eram tão
imbuídos de humildade que afetou todos os aspectos de suas vidas.
Para começar a explorar:
1. O que é humildade para você
pessoalmente? A qualidade da sua
compreensão da humildade melhora a vida ou a degrada? Explicar.
2. Descreva alguém que você conhece e por que
você acha que ele ou ela é um exemplo de humildade.
3. Descreva um momento em que você se sentiu
superior ou inferior a alguém, mas uma vez que você conheceu a pessoa, o
relacionamento mudou. O que aconteceu? A
comparação do eu com o outro desapareceu?
Da Regra Básica para
Postulantes
8.
A Primeira Nota:
A Humildade (Dias 21-24)
✷
Procurarei
maneiras que me ajudem a orar em vez de criticar; concentrar-me em minhas próprias falhas e não nas dos outros; e
liderar ou seguir com confiança.
✷
Em comunidade
com meus irmãos e irmãs na Terceira Ordem, seguirei e me responsabilizarei pela
vida modelada nesta regra.
✷
Serei guiado
por um companheiro/a espiritual e outros guias que Deus
coloca diante de mim.
Aprendendo com as Fontes
Franciscanas
A Humildade de
Francisco em relação a um Camponês
Mas o homem de Deus era humilde, tanto diante dos grandes
como com seus iguais e dos mais desprezados, pois estava mais preparado para
ser admoestado e corrigido que para admoestar. Por isso, num dia em que, fraco
e doente, não podendo ir a pé, passou montado num burrinho pelo terreno em que
estava trabalhando um rude camponês. Este foi correndo perguntar-lhe se era
Frei Francisco. Como o homem de Deus respondesse humildemente que era ele
mesmo, o outro disse: “Cuida de ser tão bom como todos dizem, porque são muitos
os que confiam em ti. Por isso te exorto a não seres diferente daquilo que
esperam de ti.” Ouvindo isso, Francisco, o homem de Deus, saltou do burro para
o chão, prostrou-se diante daquele homem rude e lhe beijou os pés, com
humildade, agradecendo-lhe porque se tinha dignado admoesta-lo.
(Tomás de Celano, Segunda Vida de São Francisco,
Livro 2, capítulo CIII:142)
Do humilde servo
de Deus
Bem-aventurado o servo que não se tem por melhor, quando é
engrandecido e exaltado pelos homens do que quando é tido por vil, simples e
desprezado. Porque, quanto é o homem diante de Deus, tanto é em si mesmo e nada
mais. Ai daquele religioso que é enaltecido pelos outros e por própria vontade
não quer descer. E bem-aventurado aquele servo que não se enaltece por própria
vontade e sempre deseja estar sob os pés dos outros.
(Francisco de Assis, Os Escritos sem data: as
Admoestações (Ad), XIX)
O exemplo das lagartixas
Lagartixas atravessam as paredes de Assis, ziguezagueando
com padrões rápidos de seus movimentos em pedra amarelada. Seus corpos verdes
contra o rosa e vermelho tornavam toda a parede interessante e viva.
Francisco viu-se nessas pequenas criaturas que se movem para a frente e
para trás, dentro e fora das minúsculas fendas. Eles amavam a geografia do seu
pequeno mundo e eles se dedicaram ao trabalho de suas vidas de forma
inconsciente, totalmente preocupados com a pedra humilde.
Foi o movimento deles que o fascinou. Seu movimento era um padrão rabiscado
no ar, que desapareceu assim que foi feito. Não havia permanência nessas
minúsculas assinaturas, nenhum monumento a si mesmo deixado para trás.
Era isso que ele queria ser: uma assinatura minúscula no ar que emocionava
alguém que a via, mas era tão anônima quanto um ziguezague de lagartixa em uma
parede cor-de-rosa de Assis. Seu
movimento seria seu poema.
(Murray Bodo, The Journey and the Dream (A Viagem e o Sonho),
p.102)
Clara em nossa
vocação
Em nome do Senhor, Amém. Entre outros benefícios que temos
recebido e estamos recebendo diariamente de nosso doador, Pai das
misericórdias, e pelos quais devemos dar mais ações de graças ao mesmo glorioso
Pai, está nossa vocação que, quanto mais perfeita e maior, mais a Ele a
devemos. Donde o dito do Apóstolo: Conhece tua vocação! (I Cor 1:26) O Filho de
Deus fez-se para nós o caminho, que nosso beatíssimo pai Francisco, seu
verdadeiro amante e imitador, nos mostrou e ensinou pela palavra e pelo
exemplo. Por isso, devemos considerar, Irmãs diletas, os imensos benefícios de
Deus a nós concedidos.
(O Testamento de Santa Clara (TCL), 1-6)
Uma Leitura de os Princípios
Vinte
e Dois – A Primeira Nota A
Humildade
As terciárias e os terciários sempre têm diante de si o
exemplo de Cristo, que se esvaziou a si mesmo, tomando a forma de servo, e que,
nos últimos dias de sua vida, humildemente lavou os pés de seus discípulos.
Eles de maneira semelhante, buscam servir uns aos outros com humildade.
Explorando
mais
a fundo
Como Francisclarianas(os), nossa intenção é imitar a
Cristo nos modos de São Francisco e Santa Clara. Portanto, devemos procurar desenvolver seus
traços de humildade, amor e alegria para que esses traços se tornem a base de
tudo o que fazemos. E, no entanto,
humildade, amor e alegria são dons de Deus!
Eles não podem ser adquiridos, ganhos ou mantidos em ou por nós
mesmos; eles não têm relação com a
dignidade, e, na verdade, talvez nunca percebamos que recebemos esses dons,
embora possam ser uma parte fundamental de quem somos.
Três elementos de humildade:
1. Conheça o seu lugar diante de Deus
Abençoado é o servo que não se considera
melhor quando é louvado e exaltado pelas pessoas do que quando é considerado
sem valor, simples e desprezado, pois o que uma pessoa é diante de Deus é o que
ela é e nada mais.
(São Francisco)
Exercício: Ficar diante de Deus
Fique em pé com os pés ligeiramente
separados e paralelos. Balance para frente e para trás e de um lado para o
outro até sentir seu peso equilibrado nos pés.
Sinta seus pés aterrados no chão. Imagine raízes profundas de seus pés
permeando o chão e a terra abaixo.
Em seguida, imagine uma linha de
energia desde os pés enraizados ao longo de todo o corpo, passando pelas
pernas, tronco, pescoço e cabeça, passando pelo alto da cabeça. Imagine agora que essa energia originou há
eras a partir de uma única fonte da qual todas as coisas vieram a existir. Você
e eu incluídos. Resista dar um nome, o que apenas
diminui. Ou chame de amor. Ou Deus. Deus caritas est. Seu objetivo é
reconectar-se. Não pergunte como. Você saberá.
Alongar o cóccix para o chão, mas
mantenha a barriga macia. Pendure seus braços ao lado do torso. Gire os braços
para fora para abrir o esterno e pressione as escápulas nas costas, depois
amplie e suavize os ombros. Encontre seu equilíbrio. Suavize sua garganta; suavize sua língua;
amoleça seus olhos. Fique nesta postura, respirando naturalmente e faça um
inventário do seu corpo. Onde você está tenso?
Solte-o. Onde você sente dor ou desconforto? Imagine envolver esses
lugares na energia do amor. Adicione compaixão. Onde você está forte? Sinta
gratidão.
Sem levantar ou enrijecer os ombros,
levante os braços e estenda os dedos para o céu. Sinta a base de seus pés, a
energia subindo através de seu corpo e saindo através de seus dedos para
conectá-lo com o fogo do céu. Ingirao fogo, receba o amor. Aprecie o momento,
dê graças e liberte-se da posse - mas nunca do amor.
Explicação
“Não julguem, para não serem julgados.”
(Mateus 7.1)
Em seu livro de 1961, Novas
Sementes da Contemplação, Thomas Merton escreveu: "O segredo da minha
identidade está escondido no amor e misericórdia de Deus". Neste
imaginar, o nosso self interior não é exclusivamente da nossa criação. No nosso núcleo mais básico, é Deus quem nos
ama até existirmos. Assim, nosso self
mais profundo é íntimo e conhecido por Deus, mesmo quando lutamos para nos
conhecermos. É por isso que Merton diz:
"Portanto, não posso esperar encontrar-me em qualquer lugar exceto em
[Deus]".
Embora cada um de nós seja conhecido
por Deus, poucos de nós buscamos
ativamente a Deus (não idéias sobre Deus) ou descansamos no amor de Deus, que é a única maneira de nos conhecermos
como somos sem julgamento. Em vez disso,
sucumbimos ao mito de que somos insuficientes como somos ou indignos de amor,
incluindo o amor de Deus.
Nossos Princípios nos lembram
que, às vezes, somos chamados a fazer algo que nos sentimos indignos ou incapazes
de fazer, mas a humildade não tem a ver com a indignidade (nem
orgulho), mas sim com a confiança no amor de Deus. Muitas
vezes, nossa hesitação tem a ver com o medo,
medo do fracasso, medo da desgraça. Humildade não conhece medo, conhece
gratidão. Quando vivemos uma vida de gratidão, tornamos sem
importânciaos padrões do mundo: valorizamos o amor e o serviço, não o poder, o
status e o dinheiro. Aberta, vulnerável e em paz, confiamos no poder tolo do
amor, de Deus, e permitimos que o medo do fracasso desapareça.
2. Saiba quem você é na Criação
Eu disse para a macieira: "Irmã,
fale comigo de Deus" e a macieira floresceu.
(São Francisco)
Exercício: Santifique Criação
Plante algo - uma árvore ou uma planta
ou mesmo uma semente, e nutra-a. Permita
que isso reconecte você com a terra e as bênçãos da criação. Observe que o
crescimento do que você plantou depende de mais do que o seu cuidado; requer
bom solo, chuva e sol. São Francisco e Santa Clara sabiam que todos dependemos
do solo, da chuva e do sol, dados pelo Criador para todos nós. Você também sabe
disso? Em gratidão, cante ou diga O Cântico das Criaturas.
Explicação
“Ame seu próximo como a si mesmo.” (Mt 22.39)
"Humildade" vem do latim
"humilis" (baixo) e "humus" (terra). Ser humilde é estar perto do chão ou da
terra. Lembramos disso todas as Quartas-Feiras
de Cinzas: Lembra-te
de que és pó e de que ao pó
voltarás. Lembramos disso quando enraizamos nossos corpos no chão
sob nossos pés.
O húmus é uma rica mistura de
materiais orgânicos que produzem um fértil
meio de crescimento. Nós também somos uma mistura rica, de bem e mal, de
alegria e tristeza, de todos os tipos de experiências, positivas e negativas,
maduras para o crescimento. Conhecer a nós mesmos através da compaixão, não do
julgamento, sabendo que somos totalmente dependentes de Deus, interdependentes
com os outros e com a criação, uma rica mistura de influências, faz com que
nossa condição fértil e única aceite a ação de Deus em nossas
vidas. Ser humilde é ser aterrado, como se fôssemos uma árvore que abre suas raízes profundamente no solo,
permanecendo forte enquanto esticamos
nossos membros além de nós mesmos, como no exercício “Fique diante de Deus”
acima. Tão profundo e distante quanto nossas raízes penetram a terra, até lá podemos alcançar. Nosso fundamento
define quem somos no mundo; nos liberta
da necessidade de provar que sou superior ou inferior aos outros. A humildade
ministra aos marginalizados, mas nos vê em parentesco com eles; a humildade não
vê o outro, não importa o status ou a espécie, mas vê parentesco com toda a
criação (veja a pergunta 3. em “Para começar a explorar” acima).
Nossa humildade se desenvolve como um
modo de viver no amor de Deus, particularmente em nosso serviço aos outros. Se
estamos vivendo em amor, entramos voluntariamente num serviço que é oferecido em companheirismo. Não desejamos reconhecimento, honra ou mesmo gratidão.
Também não insistimos em controlar ou estar no comando. Valorizamos o trabalho
dos outros, especialmente quando eles estão ministrando para nós. Permitir que
os outros nos sirvam graciosamente e sem sentir a necessidade de retribuir pode
ser difícil de engolir. Dar é geralmente
muito mais fácil do que receber. A humildade aprende com os outros ao ver
Cristo no outro.
3. Esqueça o si mesmo
Faze de mim um instrumento de tua paz.
(atribuído a São Francisco)
Exercício: cuide do seu foco
a.
Pegue uma caneta na mão e foque em como você segura ela, onde os seus dedos estão colocados,
quanta pressão você usa contra a caneta, a sensação da caneta contra sua
pele. Agora, mantendo esse foco, tente
escrever algo. Não se esqueça de se concentrar em segurar a caneta e não no que
você está escrevendo. Difícil, não é?
b. Lembre-se de um momento
em que você estava tão envolvido em algo que se esqueceu de si mesmo. O que você estava fazendo? Jardinagem? Desenho? Canto? Ajudando alguém? Tente
lembrar os detalhes do evento e descreva-o para alguém ou escreva-o em seu
diário. O que te surpreende? O tempo passou sem perceber? Como você se sentiu? Como você descreveria o
"auto-esquecimento"? O que é isso?
Explicação
“Se alguém obrigar
você a caminhar mil passos, vá com ele dois mil.” (Mt 5.41)
Quando você era criança usando uma
caneta pela primeira vez, focalizou na
caneta. Muito provavelmente você
explorou como era e como se sentia, não apenas em suas mãos, mas em sua boca.
Você experimentou seu impacto contra os dedos, testou diferentes maneiras de
segurá-la e depois a experimentou contra o papel. Mas depois que você aprendeu a usar a caneta,
sua consciência foi transformada em uma extensão do seu corpo. A caneta tornou-se
significativa não em si mesma, mas em sua utilidade como ferramenta ou como
extensão de seu corpo. O significado é deslocado do self até a ponta da caneta. Descobrimos que o significado não é encontrado
em detalhes, "eu, caneta, papel", mas na integração do todo.
Quando nos esquecemos de nós mesmos, mergulhamos na experiência sem pensar: “como estou indo?” “O que devo
dizer?” “O que eles pensam de mim?” “Serei reconhecido?” Pedimos ser o instrumento de Deus e nos abrimos
para sermos usados como uma extensão do corpo de Deus, enquanto nós, como
indivíduos, somos esquecidos. O significado não está no eu nem no outro, mas no
relacionamento. Como instrumentos de Deus, cada um de nós faz a nossa parte com
confiança, de modo que não precisamos comparar, dominar nem encolher. Nós participamos possibilitando na comunidade
o que não pode acontecer individualmente. Juntos somos maiores que a soma de
nossos esforços individuais. Nós nos transformamos em caneta.
Ministério em Ação: As sete
obras de misericórdia espirituais
Nota: Na Lição 9, nos familiarizamos
com as 7 Obras da Misericórdia Corporais. Aqui nós consideramos sua contraparte como uma maneira de
colocar a oração em ação. Crítico é que
nos aproximemos dessas obras com humildade e
compaixão, para que não se tornem distorcidas pelo farisaismo e pelo julgamento. Elas só podem ser abordadas através da solidariedade em oração com o Outro. As obras da misericórdia espirituais fazem parte da tradição cristã,
aparecendo nas obras de teólogos e escritores espirituais ao longo da história.
Pratique estas Obras de Misericórdia
Espirituais guiadas pela oração escrita pelo fundador da L'Arche, Jean Vanier:
Senhor, dá-nos
corações abertos
corações que são
humildes e gentis,
para que possamos
receber os que Tu envias,
Com ternura e
compaixão.
Admoestar o pecador
•
Não julgue. Cuidado com a tendência de assumir, oferecer
soluções. Em vez disso, torna-se o que o zimbabueano Tererai Trent chama de
"criador de possibilidades".
•
Quando você corrige alguém, lembre-se da viga em seu
próprio olho (Mt 7: 5).
•
Busque uma maneira de se conectar com alguém passando por
um momento difícil.
2. Educar ao
ignorante
•
Esteja aberto para conversar com outras pessoas sobre a fé;
a sua e a delas.
•
Convide alguém para ir à igreja com você.
•
Compartilhe uma história favorita sobre Francisco ou Clara.
3 .Aconselhar ao
duvidoso
•
Todo mundo tem dúvidas.
Até mesmo Jesus as tinha. Compartilhe o seu.
•
Não é um ou outro; pode ter dúvidas e ainda ser fiel.
•
Desfrute um delicioso sorvete com alguém que está se
sentindo frustrado.
4. Consolar ao
triste
•
Ouça alguém passando por um momento difícil. Não se
preocupe em ter palavras certas; sua presença faz uma grande diferença.
•
Faça uma refeição caseira para um(a) amigo(a) que está
enfrentando um momento difícil.
•
Escreva uma carta ou envie um cartão para alguém que está
sofrendo.
5. Suportar com
paciência os dissabores do próximo
•
Procure liberar um erro feito contra você. Ore pela pessoa que te ofendeu até que você
possa liberar a amargura.
•
Frustrado com alguém? Afaste-se da situação, respire fundo
algumas vezes, ore para ser um instrumento de paz.
•
Ore pelo bem-estar de alguém de quem você não gosta nada.
Faça algo gentil para essa pessoa.
6. Perdoar as injúrias
•
Deixe de lado o
rancor que você está guardando.
•
Participe no
sacramento da reconciliação.
•
Ore pela pessoa que
te ofendeu.
7. Rezar a Deus por
vivos e defuntos
•
Solicite
uma intenção de oração na igreja.
•
Mantenha
um livreto de intenções de oração.
•
Pergunte
a um familiar ou amigo(a) como você pode orar por ele ou ela.
Refletir
1. Como você percebe
a viga em seu próprio olho? Você tem um(a) companheiro(a) espiritual que guia o
discernimento?
2. Que práticas você pode usar para ajudá-lo a
aceitar o amor de Deus por você?
3. De que maneiras práticas você pode buscar
compreender os outros e não criticá-los?
4. Como você vê a conexão entre abnegação,
humildade e simplicidade?
Personalize sua regra
Depois de lutar com esta lição, que mudanças ou acréscimos você pode fazer para a Regra Básica
com Base nos Princípios da TSSF, nº 8?
A Primeira Nota, Humildade,
da Regra Básica da Vida (ou para uma área apropriada na regra se você
está vivendo pela regra tradicional de 9 pontos) para torná-la mais adequada às suas circunstâncias particulares?
Discuta com seu/sua companheiro/a espiritual.
