A série Notas de Formação destina-se aos formandos da TSSF para estimular a conversação e a reflexão entre os companheiros de formação, seja em grupo ou individualmente com um companheiro espiritual ou sacerdote. Para obter o máximo dessas Notas, mês-a-mês, aconselhamos anotar suas reflexões pessoais em um diário.
iremos
formas para você fazer
a Regra Básica para Postulantes em uma versão personalizada, que se ajuste a
quem você é como membro único da ordem.
Da Regra Básica para Postulantes
1.
O Objeto da Ordem: Construir uma Comunidade de Amor (Dias 1-4)
✷
Minha primeira
prioridade é dizer SIM ao chamado de Deus e estar aberto ao movimento do
Espírito Santo na minha vida.
✷
Especificamente,
vou considerar como eu sou chamado a construir comunidades de amor a cada dia
onde eu moro, trabalho e assisto à
celebração religiosa.
✷
Procurarei ser
um agente da paz, defender o que é bom para a criação e promover o bem-estar de
todas as pessoas, incluindo eu mesmo.
✷
Cultivarei um coração grato e
praticarei a resiliência (superando as dificuldades pessoais).
✷ Para construir um relacionamento com meus irmãos e irmãs na TSSF, buscarei oportunidades de companheirismo; rezar diariamente o Compromisso da Comunidade; contribuir financeiramente dentro dos meus meios para a Ordem; interagir responsivamente com meu companheiro espiritual; renovar meus votos anualmente; e respeitar as decisões do Capítulo.
Aprendendo com as Fontes Francisclareanas
Francisco despe-se na presença de bispo, pai e gente da cidade
Diante do bispo, já
não suportou demoras e nada o deteve.
Nem esperou que falassem, nem ele mesmo disse nada. Despiu-se imediatamente,
jogou ao chão suas roupas e as devolveu ao pai. Não guardou nenhuma peça de
roupa, ficou completamente nu diante de todos. O bispo, compreendendo sua
atitude e admirando seu fervor e sua constância, levantou-se e o acolheu em seus braços,
envolvendo-o na capa que vestia. Compreendeu claramente que era uma disposição
divina e percebeu que os atos do homem de Deus que estava presenciando
encerravam algum mistério.
Tornou-se, desde então, seu protetor, favorecendo-o,
confortando-o e abraçando-o com caridade. É aqui que o nu luta com o adversário nu e,
desprezando todas as coisas que são do mundo, aspira apenas a justiça de Deus.
Foi assim que Francisco tratou de desprezar a própria vida, deixando de lado toda solicitude, para
encontrar como um pobre a paz no caminho que lhe fora aberto: só a parede da carne
separava-o ainda da visão celeste. —1Cel 6.15, 1-7
Apropriar tudo para Deus
Não
é de admirar que São
Francisco tivesse essa conversa com o bispo de Assis, o qual lhe disse:
"Acho sua vida difícil demais, muito áspera. Você não
possui nada no mundo." "Meu Senhor", Francisco respondeu, "Se tivéssemos bens, precisaríamos de armas
para defendê-los".
Não
é de admirar, também, que São
Francisco proibiu os irmãos de terem
moradias próprias, e de não apropriar nada para si. Tudo deveria ser
considerado empréstimo de Deus, do Grande Doador de Esmolas, e os irmãos
deveriam tratar todas as coisas criadas, animadas e inanimadas, como bons
donativos de Deus que se
tornam malvados por nossa própria cobiça e possessividade. Não é que uma coisa individual em si mesma
seja má, mas nossas apropriações dela como se fosse nossa, sem referência ao Deus que a criou, que a mantém na existência e que a santifica. Para São
Francisco, todas as coisas devem ser tratadas com reverência e com referência ao seu criador, através delas
devemos oferecer louvor e ação de graças a Deus.
--Murray Bodo, Entrando
em Assis (cf. A Lenda dos Três Companheiros,
14:35)
Clara proíbe possuir propriedade
E
como eu sempre fui solícita
com minhas Irmãs, na observância da santa pobreza que ao Senhor Deus e ao
bem-aventurado Francisco prometemos guardar, assim sejam obrigadas as
abadesas que me sucederem no cargo e todas as Irmãs a observá-la inviolavelmente
até o
fim: isto é, a não aceitar nem ter posse ou propriedade nem por si, nem
por pessoa intermediária, e nem coisa alguma que possa com razão ser
chamada de propriedade, exceto aquele tanto de terra requerido pela
necessidade para o bem e o afastamento do mosteiro. E essa terra não será
trabalhada a não ser para a horta e a necessidade delas. —Regra de Santa Clara, 6,
10-15
Sobre a oblação
E tendo preterido totalmente todos
aqueles que, neste mundo falaz e perturbador, enganam seus cegos servidores,
ama inteiramente só Aquele que se entregou todo por teu
amor.... —Terceira Carta
de Santa Clara a Santa Inês
de Praga (3CCL), 15
Uma Leitura de Os Princípios
Dia Dois – O Objetivo (continuação)
Pelo exemplo de seu sacrifício
pessoal, Jesus revela o segredo de como produzir frutos. Ao se entregar a si
mesmo à morte, ele se torna a fonte de nova vida. Da terra erguido sobre a
cruz, ele atrai todos a si. A busca ansiosa pela vida leva a própria vida ao
seu declínio; a vida que é dada livremente é eterna.
Oblação
O
Objeto é o presente, ou oblação, do eu, do corpo-mente-alma, para Deus. A
oblação reza: "tudo o que eu sou e tudo o que tenho é teu, Senhor. Usa-me
para suportar tua luz e amor em tudo o que eu digo e faço e sou." Somos
convidados a deixar as distrações de nossas vidas, internas e externas, a
tornarmos acessíveis ao Deus falando para nós, para nossos corações e para o
funcionamento do Espírito Santo dentro e através de nós. Para que Deus possa
entrar, devemos desistir da nossa ilusão de controle. Isso exige ficar em um
lugar de vulnerabilidade, a qual a autora Brené Brown descreve como "a
vontade de ficar ‘inteiramente por dentro,’ mesmo quando você sabe que pode
falhar e se machucar.” É a vontade de abandonar a certeza, arriscar aquilo que
é desconhecido, ser de coração aberto. Entregar-se é nada menos que ter a
coragem de deixar-se a si, e deixar entrar a Deus.
A
auto-entrega custa tudo. E qual a recompensa? Vida em Deus: paz, amor, bondade.
E, no entanto, isso não garante nada segundo os padrões mundiais. Continuaremos
a sofrer. Continuaremos a duvidar. Continuaremos a nos perguntar "e agora,
quê?". A diferença é que a ansiedade da incerteza é substituída pela paz,
a defesa contra as ameaças percebidas é substituída pelo coração aberto, o reinado
do mal é substituído pela bondade arrasadora.
O
problema é que não sabemos como é o reino de Deus até chegarmos lá. Onde ou o
que é não pode ser conhecido a distância. Quê distância? Fica longe? Não, fica
perto, muito perto. Fica por dentro, em nossa mente, em nosso coração. Ainda
assim, a viagem será árdua porque temos dedicado toda uma vida em proteger o
íntimo de nosso ser.
A única
maneira de “chegar” é, paradoxalmente, afastar-nos, sair da frente, ceder o passo a
Deus, oferecendo-nos em oblação. Talvez apareça que não estamos fazendo nada,
mas é precisamente esse não-fazer que permite a Deus nos tocar como se fôssemos
instrumento musical.
Você
alguma vez foi ver o médico para manipulação de um braço ou perna? A pior coisa
que você poderia fazer seria “ajudar” o médico no movimento. O médico não nos
pode sarar se “ajudamos.” Nossa tarefa é relaxar e deixar trabalhar o médico.
Assim é com Deus. Nossa tarefa é desistir “ajudando” e deixar que Deus nos
toque. Daí seremos instrumento de Deus. Daí nossas vidas serão orar sem cessar.
Resumindo: temos que desarmar todo
aquele aparelho de segurança que construímos a través das
décadas para proteger-nos, as cordas, as polias, as redes, e entregar-nos,
completamente nus, à vida plena em Cristo.
Vamos ficar nus
Quando
Pietro Bernardone desafiou publicamente seu filho, Francisco não lutou, não se
defendia. Em vez disso, o jovem literalmente tirou toda sua roupa na praça
pública. Ele desarmou aqueles que o acusavam, primeiro em se desarmando a si
mesmo. Francisco entendeu que a pobreza evangélica não é uma luta, não é algo
para conseguir, mas sim uma questão de entrega completa e total a Deus. E é um
negócio arriscado porque não sabemos como vai acabar. Entrega significa
desistir de controlar, e quem sabe o que pode acontecer se não temos controle!
A
vulnerabilidade que acompanha a nudez é o que buscamos para nos entregar a
Deus. Poucos de nós somos capazes de tirar a roupa de uma vez, aqui e agora,
ante todo mundo, mas podemos começar uma prática lenta e consistente tirando
pouco a pouco. Cada peça que tiramos nos leva um passo mais perto do coração de
Deus.
Na
Lição 4 destas Notas de Formação, consideramos o caminho francisclariano da
Pobreza Evangélica. Não é que busquemos a pobreza, mas sim que a pobreza é o
meio para um coração aberto e compassivo. Quanto menos coisas nós temos, mais
nos rendemos. "Coisas" naturalmente incluem bens, mas não esqueça que
nossas idéias, dogmas, padrões, podem ser impedimentos ao nosso relacionamento
com Deus e com os outros.
Francisco
e Clara são nossos exemplares, nossos professores. E o que eles ensinam? Que
cada momento, todos os dias, é uma oportunidade de se render completamente e de
forma decisiva, ou até o máximo que pudermos naquele momento, ao amor. Nas
palavras de Santa Clara na carta a Inez: "Coloca a tua mente diante do
espelho da eternidade! Coloca tua alma no brilho da glória! E transformar todo
o teu ser ... através da contemplação" (12-13). Ou nas ações de São
Francisco: fica nu.
Eloi
Le Clerc, em seu livro, Retorno aos Evangelhos, escreveu que "Clara
fez Francisco compreender que a paz de coração era a maior forma de pobreza, a
paz que vem da entrega total de si mesmo a Deus." Clara, como Francisco,
sempre colocou o evangelho primeiro. Isso permitiu a misericórdia de Deus e a
minoria do eu moldarem sua visão do mundo. O "privilégio da pobreza",
que Clara procurava e obteve do Papa, tinha menos a ver com bens materiais e
mais com o caminho da misericórdia e da vulnerabilidade. Portanto, seguindo as
instruções de Jesus para nós, devemos dar a Deus as coisas que são de Deus. Nós
pertencemos a Deus e em Deus vivemos, nos movemos e temos nosso ser. É lá onde
encontramos a nossa verdadeira identidade como pessoas amadas e feitas por
Deus; e tão pronto para amar os outros.
Ação ministerial
No
confronto, uma das pegadas mais úteis é aquela que você leva para trás. Quando
você se encontra em um momento difícil com alguém, dê um passo atrás. Respire e
pergunte:
+
Como posso ver isso de forma diferente?
-
estou culpando o outro? posso apontar o dedo pra mim?
-
Preciso reconhecer o mérito do outro?
+
O que eu preciso largar?
-
a opinião dos outros?
-
a necessidade de estar certa?
-
uma idéia de quem eu acho que sou?
-
alguma necessidade ou emoção interna que bloqueie meu coração?
+
Estou me defendendo da vulnerabilidade?
-
eu preciso estar no controle?
-
Temo o desconhecido?
Finalmente,
agradeça pelo momento, solte e relaxe no amor de Deus.
Para Reflexão:
1.
Que ação concreta você precisa tomar para ser mais aberto ao Caminho de Deus em
vez do caminho de você? Existe uma prática que você pode adotar diariamente
para promover a auto-entrega ao Amor?
2.
Descreva um momento em que você pulou para fazer ou dizer algo sem confiança,
quando esse “algo” parecia arriscado. Como acabou? Você sentiu a ação de Deus
nessa experiência? Explicar.
3.
Com quais práticas eu me envolvo no dia a dia para me responsabilizar por minha
regra de vida?
Uma nota sobre Fidelidade
Os
elementos da Fidelidade (Obediência) e as marcas de adesão na TSSF se encaixam
bem nesta seção da regra, O Objeto, porque eles mostram compromisso com a
comunidade que devemos criar e sustentar. Esses elementos incluem: contribuição
financeira, renovação anual de votos, relatórios regulares, dizendo a
Obediência Diária. Outros elementos podem ser incluídos em outros lugares,
Santa Eucaristia, reconciliação em 5. Oração; e companheirismo espiritual e
retiro em 8. Humildade ou 9. Amor.
Personalize sua Regra
Depois
de lidar com esta lição, quais mudanças ou adições você pode fazer para 1. O
Objeto da Regra Básica da Vida (veja a pagina 2. acima; ou para 9. Fidelidade
(Obediência) é que você está vivendo pela regra tradicional de 9 pontos) para
torná-lo mais adequado às suas circunstâncias particulares? Discuta com seu
companheiro/a espiritual.
O que você
precisa fazer para se jugar mais a Deus e a Comunidade, e menos a si?