quarta-feira, 14 de junho de 2017

Notas de Formação – Lição 5

Nesta postagem no blog Claras e Franciscos segue a Lição 5
Desejamos a todos e todas uma boa leitura.

Notas de Formação
Terceira Ordem da Sociedade de São Francisco (TSSF)
Região do Brasil
A série Notas de Formação destina-se aos formandos da TSSF para estimular a conversação e a reflexão entre os companheiros de formação, seja em grupo ou individualmente com um companheiro espiritual ou sacerdote. Para obter o máximo dessas Notas, mês-a-mês, aconselhamos anotar suas reflexões pessoais em um diário. (Adaptado das Notas de Formação da Província Ásia-Pacífico com permissão.)

Lição 5: Santa Clara de Assis: Sua Vida de Pobreza e seu Dom de Oração para a Igreja
Revisão da Lição 4: Na sua opinião, qual é o maior dom que São Francisco deu ao povo de Deus? Qual é o presente mais útil que ele tem dado para você pessoalmente?
O que há neste estudo? Exploramos a vida de Santa Clara de Assis para averiguar os principais dons que Clara deu à igreja: pobreza e oração. Nós identificamos como esses dons podem guiar nossas vidas como cristãos franciscanos.

Começando a explorar: 
Santa Clara queria viver o mais simples possível para que não houvesse barreiras entre ela e suas relações com Deus e com os outros.
1.Suas posses vêm entre você e Deus?
2. Suas atitudes vêm entre você e as pessoas que você encontra no dia a dia?
3. O que você pode fazer para viver de forma mais simples?

Aprendendo com as Fontes Franciscanas

Domingo de Ramos, 1212
Poucos dias antes do Domingo de Ramos, a jovem, de coração inflamado e decidida a mudar de vida, procurou o homem de Deus, para inquirir sobre a forma como devia proceder. O santo Pai ordenou-lhe que se apresentasse bem vestida e adornada e que participasse com o povo na cerimônia de ramos e que na noite seguinte deixasse a cidade (cf. Heb 13, 13), transformando as alegrias mundanas em luto pela Paixão do Senhor (cf. Tig 4, 9).
Chegado o Domingo, Clara, sobressaindo pelo aspecto festivo, dirigiu-se com os demais para a igreja. Ali, algo de muito significativo aconteceu. Na altura da distribuição dos ramos, Clara ficou modestamente retraída, no seu lugar. Foi o próprio Bispo que, descendo os degraus, lhe fez a entrega pessoal do ramo.
Na noite seguinte, obedecendo às ordens do santo, empreendeu a saída tão desejada em companhia de pessoas de sua confiança. Não lhe parecendo prudente usar a saída do costume, optou por outra, abrindo com as próprias mãos e com uma força de que ela mesma se admirava, uma porta que há muito tempo estava obstruída com madeira e pedras.
Desta maneira deixou a casa, a cidade e os familiares e apressou-se a ir para Santa Maria da Porciúncula. Os irmãos, que à volta do altar celebravam as sagradas vigílias, receberam a virgem Clara com tochas acesas. Ali se libertou da imundície da Babilônia (Dt 24, 1) e repudiou tudo o que era mundano. Renunciando a todos os adornos, consentiu que os irmãos lhe cortassem os cabelos.
Não havia lugar mais adequado para testemunhar o nascimento desta Ordem de florescente virgindade, que esta igrejinha dedicada àquela que é a primeira e mais digna entre todas as mulheres, Mãe e Virgem ao mesmo tempo. Foi neste lugar que, sob a égide de Francisco, teve início a nova família dos pobres. Ficou assim manifesto que ambas as Ordens quiseram começar à sombra da proteção da Mãe de misericórdia.
Depois de Clara ter recebido perante o altar de Nossa Senhora as insígnias da santa penitência e de ter desposado Cristo como humilde serva, Francisco levou-a para a Igreja de São Paulo, onde deveria ficar até que o Altíssimo dispusesse doutra maneira.
*Celano, Legenda de Santa Clara de Assis (LCL), 7-8

O Privilégio da Pobreza
Querendo que a pobreza fosse timbre da Ordem, pediu ao Papa Inocêncio III, de santa memória, o Privilégio da Pobreza.Este homem venerável congratulou-se com o fervor de Clara. Mas advertiu-a de que o propósito era singular e que nunca tal privilégio fora solicitado à Santa Sé. E como tão insólito pedido exigia um não menos insólito favor, o mesmo Papa, pelo próprio punho, escreveu com grande alegria o primeiro esboço do privilégio pretendido.
O Papa Gregório, de santa memória, também ele um homem digno do trono papal e muito venerado pelos seus méritos, tinha ainda mais consideração e afeto por esta santa. Prevendo eventuais circunstâncias e os perigos do tempo, tentou persuadi-la a aceitar a posse de alguma propriedade que ele mesmo lhe oferecia. Mas Clara opôs-se sempre radicalmente e nunca cedeu minimamente a tais pretensões. Perante tal relutância, o Santo Padre explicou-lhe: “Se temes pelo voto, nós dispensamos-te dele”. Mas ela respondeu: “Santíssimo Padre, por nenhum preço quero ser dispensada de viver o seguimento de Cristo por todo o sempre.”
*Celano, Legenda de Santa Clara de Assis (LCL), 14

Admoesto e exorto no Senhor Jesus Cristo a todas as minhas irmãs, presentes e futuras, que se esforcem por seguir sempre o caminho da santa simplicidade, humildade e pobreza e que levem uma vida santa, como nos ensinou o Pai São Francisco no princípio da nossa conversão. *Testamento de Santa Clara (TCL) 56-57
Se for achada idônea, diga-se-lhe a palavra do Santo Evangelho que diz que vá e venda todas as suas coisas e as reparta pelos pobres (Mt 19, 21). Mas se não o puder fazer, basta-lhe a boa vontade.
*Regra de Santa Clara (RCL) 2.4, vv. 8-9.

Modelos de Oração 


Uma Benção de Santa Clara
Mantém-te firme no que já alcançaste;
sê constante no que fazes;
não desanimes no caminho,
corre veloz,
com passo leve e sem tropeçar;
que nem a teus pés o pó se apegue;
avança segura,
alegre e jovial,
no caminho da felicidade,
não acredites nem confies
em quem te tentar desviar deste propósito;
ultrapassa todo o obstáculo do caminho, e sê fiel ao Altíssimo (cf. Sl 150, 14)
no estado de perfeição
a que te chamou o Espírito Santo.
*Segunda Carta de Santa Clara a Santa Inês de Praga (2CCL),11-14

Método de Oração de Santa Clara
Como virgem pobre, abraça a Cristo pobre.Contempla-O desprezado por teu amor e segue-O tornando-te desprezível por Ele neste mundo.Contempla, nobre rainha, o teu Esposo. Sendo o mais belo dos filhos dos homens ( cf. Sl 44, 3), transformou-se, para tua salvação, no mais desprezível dos mortais. Morreu na Cruz, no meio dos maiores sofrimentos, golpeado e vezes sem conta açoitado em todo o corpo. Olha, considera e contempla e que o teu coração se inflame na sua imitação.
*Segunda Carta de Santa Clara a Santa Inês de Praga (2CCL), 18-20

Uma Leitura dos Princípios
Dia Doze – O Terceiro Propósito (continuação)
Os gastos pessoais são limitados ao que é necessário para sua manutenção da saúde e bem estar, assim como a de seus dependentes. Eles aspiram a se colocar livres de toda dependência da riqueza, mantendo-se sempre cônscios da existência da pobreza no mundo e de seu envolvimento responsável de cada um deles nessa condição de penúria. Os terciários e as terciárias estão mais preocupados com a generosidade que tudo dá, do que com o valor da pobreza em si. Dessa forma eles refletem em espírito a aceitação do desafio de Jesus a vender tudo, dar tudo aos pobres e segui-lo.

Explorando mais a fundo:

Uma breve cronologia
1194 - Nasce Clara, a filha mais velha de Hortulana e Bernardino, família nobre.
1212 - Domingo de Ramos, Clara é recebida na Porciúncula por São Francisco e os frades.
1216 - Clara recebe o "privilégio da pobreza" do Papa Inocêncio III.
1224 - Começa longo período de má saúde que dura pelo resto da vida.
1240 - Clara defende a cidade de Assis contra os Sarracenos.
1253 - A Regra da comunidade é aprovada pelo Papa Inocêncio. Falece Clara.
1255 - Clara é canonizada pelo Papa Alexandre IV.

O privilégio da pobreza
O frade franciscano católico Romano, Daniel P. Horan, diz que a pobreza franciscana tem a ver com relacionamentos. Ele descreve três tipos de pobreza:
Pobreza material ou abjeta - falta forçada de necessidades humanas básicas.Isto NÃO é pobreza do evangelho, é mau e sempre deve ser protestado.
Espiritual - isso vem do pensamento dicotômico, especialmente quando o espiritual eo material estão separados. O evangelho fica desconectadoda vida diária e não é desejável.
Evangélico - o Caminho Franciscano. A pobreza não é a meta que buscamos, mas sim o meio para um coração aberto e compassivo. Através da pobreza evangélica, entregamos essas coisas (materiais, intelectuais, teológicas, etc.) que interferem com o nosso relacionamento com Deus e com os outros.
Portanto, a pobreza evangélica nos chama a:
1. Viver nossos votos batismais.
2. Render o que é necessário para quebrar barreiras aos relacionamentos, para que possamos viver em solidariedade uns com os outros.
3. Protestar contra estruturas de injustiça.
Clara, como Francisco, sempre colocou o evangelho primeiro. Isso permitiu que a misericórdia de Deus ea minoria do self moldassem sua visão do mundo. O privilégio da pobreza tinha a ver menos com posses materiais e mais com andar o caminho da misericórdia e vulnerabilidade.

Um Modelo de Oração
Em suas cartas a Agnes, Clara nos dá um caminho para seguir a Cristo usando um método de 4 passos de oração visual: olhar, considerar, contemplar, imitar.

Experimenta:
Olhar: Encontre um objeto de atenção - pode ser algo material, como uma cruz, um ícone ou uma flor; Ou pode ser algo em sua imaginação, uma imagem de Jesus andando ou de Deus segurando você ou de um lugar pacífico na natureza. Concentre-se no objeto, permita-se tornar-se quieto, inalar/exalar. Quando seu olhar vagueia para outros pensamentos, gentilmente traga-o de volta ao seu objeto de atenção sem julgamento.
Considerar: Observe seus pensamentos e sentimentos enquanto olha para o seu objeto. O que lhe parece interessante? O que está acontecendo, ou não acontece nada? Que sentimento está surgindo? O que de Deus você está sentindo? Você está enfrentando um desafio ou uma chamada? Se não sente nada, lembre que está bem. Deus vem na voz mansa, pequena.
Contemplar: Retorne à sua respiração e ao objeto de sua atenção. Permita que a curiosidade do passo 2 ceda lugar à quietude. Em vez disso, basta assistir a tudo o que surgiu sem controlar ou aferrar-se nele. Se o passo 2 foi ativo, este passo é receptivo, simplesmente estando presente à respiração, ao que você já experimentou, estar com Deus.
Imitar: Quando estiver pronto, dê graças por este tempo com Deus. Pergunte que pista você ganhou para seguir mais claramente a Jesus - raramente nós experimentamos um grande insight, geralmente descobrimos o menor dica, um fio finíssimo que pode parecer insignificante, mas seja o que fosse, basta, é transformador. Finalmente, tome algumas respirações profundas e encerra seu tempo de oração. Deixe o momento com a intenção de ir a imitar o Cristo.

Para Reflexão:

Ver de novo as passagens das Fontes sobre Clara apresentadas nesta lição.
❖Domingo de Ramos 1211
❖O privilégio da pobreza
❖Modelos de Oração
1. Imagine Clare na noite em que deixou sua família para se juntar à família franciscana. O que ela foi forçada a render? Você seria tão ousado? De que você precisa renunciar para abraçar melhor a vocação franciscana?
2. Quais são algumas das coisas, idéias e/ou atividades em sua vida que são, ou poderiam ser, uma barreira entre você e seu relacionamento
a. Com Deus?
b. com outros?
c. com você mesmo?
3. Praticar o método de 4 passos de oração visual identificado por Clara. Que insight ou sentimento você teve? Como poderia ajudá-lo no seu caminho para seguir a Jesus? Compartilhe sua experiência com seu companheiro espiritual.

Ação ministerial
A espiritualidade de Clara é bem captada na oração de São Ricardo, Bispo de Chichester (1197-1253), popularizada no Opera Rock Godspell (1971) com a música "Day by Day" cantada por Maria de Magdala:
Dia trás dia, dia trás dia,

Caro Senhor, de ti três coisas eu peço:
Verte mas claramente,
Amar-te mas sinceramente
Seguir-te mas de cerca,
Dia trás dia.

Que ação concreta você pode abraçar em sua regra pessoal que o ajudará a aprofundar seus relacionamentos praticando a pobreza evangélica e seguindo Jesus mais de perto?

Mais leitura - só se sentir chamado
(Ser Franciscano NÃO é ler mais livros!)

Online:
http://www.editorialfranciscana.org/portal/index.php?id=5655
Escritos, documentos biográficos, Privilégio da Pobreza

Livros:
Frei Dorvalino Francisco Fassini, OFM et al., Fontes Franciscanas (São Paulo: Santo André, 2005)
Agamben, Giorgio. Altíssima Pobreza. Tradução de Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo Editorial, 2014, 220 páginas.
Para quem quer aprofundar a temática da pobreza franciscana, o melhor é o terceiro capítulo do livro.

Pensando para frente:
Na próxima lição consideraremos os seguidores de São Francisco e Santa Clara. Você pode nomear franciscanos que foram testemunhas de Cristo e de São Francisco e Santa Clara nos últimos 800 anos?


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