Notas de Formação
Lição 18: Personalizando
a Regra Básica da Vida:
Dos Princípios: 10. A Terceira Nota:
A Alegria (Dias 28 - 30)
O que há neste estudo?
Nesta lição,
exploraremos a alegria, a terceira nota encontrada nos Princípios dos membros
da Terceira Ordem, Sociedade de São Francisco. Vamos considerar como a Alegria
é um estado interno, que está entrelaçado com o sofrimento e que deve ser
compartilhado.
Para começar a explorar:
1. O autor americano J.D. Salinger disse: “a felicidade é
sólida, a alegria é líquida”. O que você
acha que ele quis dizer com isso? Como
você descreve a diferença entre felicidade e alegria?
2. De que maneiras você recebe a alegria? Como você compartilha essa
alegria com os outros?
3. Quando foi a última vez que você riu? Descreva o momento.
Da Regra Básica para
Postulantes
10.
A Terceira Nota:
A Alegria (Dias 28-30)
✷
Estarei atento
ao que me dá alegria e como posso me abrir para receber esse presente. Eu
procurarei sarar as experiências que me isolaram deste presente.
✷
Estarei ciente
de como a alegria pode iluminar as dificuldades da minha vida.
✷
Como Francisco e Clara, orarei por maneiras de superar a negatividade em
relação àquilo que considero impuro ou repugnante, e aprender a valorizá-lo.
Aprendendo com as Fontes
Franciscanas
Clara nos deseja
alegria
Exultai e alegrai-vos muito, cheia de grande júbilo e alegria
espiritual! Crescendo do bom para o melhor, de virtude em virtude, a fim
de que Aquele, a quem servistes com todo ardor da mente, digne-se conceder-vos
o prêmio almejado.
—Santa Clara, 1a Carta a
Inês de Praga [1CCL], 21, 32
Francisco explica
a verdadeira e perfeita alegria
...Um dia, o Bem-aventurado Francisco, em Santa Maria,
chamou Frei Leão e disse: Escreve, Frei Leão,. Este respondeu: Eis que estou
pronto. Escreve qual é a verdadeira alegria.
Vem um mensageiro e diz que todos os mestres de Paris
entraram na Ordem. Escreve: Não é a verdadeira alegria. Do mesmo modo, que todos os
prelados ultramontanos, Arcebispos e Bispos e até mesmo o rei da França e da
Inglaterra. Escreve: Não é a verdadeira alegria. Do mesmo modo, que Irmãos meus
foram para os infiéis e converteram todos eles à fé; e ainda que tenha tanta
graça de Deus a ponto de curar enfermos e de fazer muitos milagres: digo-te que
em todas estas coisas não está a verdadeira alegria.
Mas qual é a verdadeira alegria? Volto de Perusa e, na calada da
noite, venho para cá. É estação barrenta e fria de inverno, de modo que as
gotículas de água fria congelam nas extremidades da túnica e continuamente
ferem as pernas, fazendo-as sangrar. E, todo coberto de lama, frio e gelo,
chego à porta e depois de ter batido e chamado por muito tempo, vem o Irmão e
pergunta: Quem é? Eu respondo: Frei Francisco. E o mesmo diz: Vai embora. Não é
hora decente de chegar. Aqui não entrarás. E, a mim que insisto responde de
novo: Vai-te, tu és um simplório e idiota: de jeito nenhum entrarás. Nós somos
tantos e tais que não precisamos de ti. E de novo me coloco diante da porta e
digo: Por amor de Deus, acolhei-me por esta noite. E ele responde: Não o farei.
Vai lá para os Crucíferos pedir-lhes hospedagem. Digo-te que, se tiver
paciência e não ficar abalado, nisto está a verdadeira alegria e a verdadeira
virtude e a salvação da alma.
—Francisco de
Assis, “Os escritos sem data”: Verdadeira e perfeita alegria, [VPA]
Uma Leitura de os Princípios
Dia
Vinte e Oito – A Terceira Nota A
Alegria
As terciárias e os terciários, regozijando-nos sempre no
Senhor, mostramos em nossas vidas a graça e a beleza do júbilo divino. Nós
relembramos que somos seguidores do Filho do Homem, aquele que comia e bebia,
que amava os pássaros e as flores, que abençoava as crianças pequenas, que era
amigo de coletores de impostos e de pecadores, e que se sentava à mesa tanto de
ricos como de pobres. Nós nos divertimos e rimos, regozijamo-nos com o mundo de
Deus, com sua beleza e com as criaturas viventes, não reconhecemos a nada como
coisa comum ou impura. Nós nos misturamos livremente com outras pessoas,
estamos sempre dispostos a confortar os de coração quebrantado, e a trazermos
alegria às vidas dos outros. Trazemos dentro de nós uma paz e uma felicidade
interiores que os outros podem perceber, mesmo se não conhecem a fonte de onde
elas provêm.
Explorando mais a fundo
A famosa história que São Francisco conta acima sobre
a alegria perfeita é provavelmente uma das mais malcompreendidas de seus
ensinamentos. Ele não está sugerindo que a alegria advenha de aceitar abusos e
que, se queremos alegria, devemos buscar dificuldades. Não. O que ele está
percebendo é que a alegria não está sujeita ou influenciada por circunstâncias
externas. É nossa capacidade de manter a serenidade e a confiança interiores
durante os períodos de doença e sofrimento (Dia do Princípio 30). O oposto da
alegria não é tristeza ou sofrimento; esses são aspectos essenciais da alegria;
o oposto é entorpecimento. E como encontramos tantas maneiras de nos
entorpecer!
O psiquiatra e escritor James Finley explica assim:
"Deus não nos protege de nada, mas nos sustenta em tudo". Eis a cruz,
no meio do pior trauma, como a execução de Jesus, temos uma força interior de
Deus que nos sustém e nos permite dizer com Jesus: “perdoa-os porque não sabem
o que estão fazendo." O irmão Francisco entendeu isso. Ele pinta um caso
extremo de abuso para mostrar que, mesmo assim, nossa confiança em Deus, nossa
alegria, não pode ser prejudicada. A alegria é a nossa vida interior em Deus e
não pode ser roubada.
Kahlil Gibran em seu livro, O Profeta, explica
que alegria e sofrimento são inseparáveis:
Alguns de vocês dizem: "Alegria é maior que
tristeza"
e outros dizem: "A tristeza é
maior".
Mas eu lhe digo, eles são
inseparáveis...
Quanto mais profunda a tristeza
esculpe seu ser, mais alegria você pode conter.
A alegria é encontrada em nossas conexões: conexão
consigo mesmo, especialmente com nossas idiossincrasias, conexão com Deus,
conexão com os outros, conexão com criaturas e criação. É perceber que todos
sofremos, morremos, sentimos falta, amor e prazer. O sofrimento vem da separação ou do apego ou
entorpecimento. Quando nos apegamos a essa ou aquela coisa ou pessoa, nos
desconectamos do todo e do mistério; em vez de alegres, ficamos agitados e
mal-humorados. A pequena Teresa de Lisieux disse à irmã Celine, que estava
chateada com suas próprias falhas: "Se você estiver disposta a suportar
serenamente o suplício de ser desagradável para si mesma, será um local
agradável de abrigo para Jesus".
Francisco, Clara e Thérèse nos ensinam a abandonar o ego que se apega ao
"sentir-se bem" por necessidade;
e, em vez disso, deleitar-se com nosso Deus, que se deleita em nós.
Nossa regra pessoal de vida é uma prática que nos ajuda a parar de segurar,
procurar nos lugares errados, encontrar maneiras de nos entorpecer, ou seja,
abandonar as coisas que nos separam do amor, para que possamos viver em
alegria.
A alegria reside no coração, não em algum lugar fora
de nós, esperando ser
encontrada ou apreendida. Só precisamos estar
presentes. E, no entanto, embora seja um estado interior do ser, a alegria
insiste em ser compartilhada. Não pode ser contido ou deixado escondido em
nossos corações para encolher-se. A minha alegria é a nossa luz que brilha para
os outros verem e desfrutarem. Ela brilha como uma jóia com muitas facetas:
facetas como serenidade e paz, brincadeiras e risadas, criatividade,
descoberta, compaixão, gratidão e entusiasmo. Ele nos sustenta na dor e na
tristeza, na tristeza e na perda, bem como nos momentos de felicidade. Isso
ocorre porque a alegria, como humildade e amor, é uma marca do relacionamento
com Deus e com os outros. Contê-lo é separá-lo do relacionamento e depois se
perde. Mas quando compartilhamos, nós e outros estamos presentes a suas muitas
facetas.
O que podemos considerar obstáculos à alegria, emoções
como medo, ansiedade, estresse, tristeza, desespero, solidão, inveja são
obstáculos apenas quando ficamos presos nelas. Elas também podem ser portas de entrada
para aquele lugar mais profundo onde nosso medo encontra a graça, onde nossa
humanidade encontra o divino, onde experimentamos o cruzeiro do horizontal e do
vertical, do pessoal e do universal, da cruz. Duas pessoas que passaram
tremendo sofrimento em suas vidas pela opressão e pelo exílio, o 14º Dalai Lama
e o ex-terciário arcebispo Desmond Tutu, descrevem oito qualidades da alegria,
quatro da mente e quatro do coração, em O Livro da Alegria: Felicidade
Duradoura em um Mundo em Mudança por Tenzin Gyatso (2016). Eles incluem:
Qualidades da
mente
1. Perspectiva: existem muitos ângulos
diferentes
A maneira como vemos o mundo é a maneira como
experimentamos o mundo. Se nossa visão
for estreita, seremos infelizes porque a vida é repleta de variedade. Não teremos capacidade para acomodar a
diversidade. Mas se pudermos ampliar nossa visão e ver a imagem maior,
desbloquearemos maravilha e alegria. Estaremos abertos a outros pontos de vista
e seremos menos reativos quando as coisas não acontecerem do nosso jeito. Em
vez disso, responderemos com curiosidade que abre o caminho para a alegria.
Especialmente digno de nota é encontrar uma maneira de se reconciliar com o
inimigo, "aquele cuja história você não ouviu ainda".
2. Humildade:
somos todos iguais
No meio de toda a diversidade, no fundo, somos todos
iguais. Todos somos feitos de poeira estelar, do húmus, e temos as mesmas
necessidades, esperanças e desejos. Todos nós precisamos de comida, dos outros
e do amor. A humildade não se importa com status, mas com mutualidade. Enquanto
essa perspectiva aponta para a diversidade, e a humildade para a unidade, ambas
mudam nosso olhar de eu/mim/meu para nós/ nosso. (cf. Lição 16)
3. Humor: rir, brincar é melhor
O humor começa com a capacidade de relaxar, de não
tomar-nos a sério, de rir de nós mesmos. É bom para a nossa saúde, nossa mente
e nosso coração. O humor promove nossa conexão com os outros e nos ajuda a
aceitar o inesperado. A surpresa se torna motivo de prazer, em vez de desânimo.
O humor é a habilidade de afrouxar o punho cerrado e prosseguir, como aconselha
a irmã Clare, com passos leves.
4. Aceitação:
o único lugar onde a mudança pode começar
Aceitar o que está acontecendo ao nosso redor não é
resignação e derrota, mas um chamado ao ativismo. Ver a realidade do nosso
mundo é como nos engajamos no mundo em seus próprios termos, não para mantê-lo,
mas para transformá-lo. Não podemos mudar o que nos recusamos a ver. Uma vez
que reconhecemos o bem e o mal, a alegria e o sofrimento, podemos usá-los como
portais de compaixão, bondade e amor. A aceitação nos obriga a deixar o nosso
caminho e nos abre para encontrar novas maneiras de fazer mudanças.
Qualidades do
Coração
5. Perdão: libertando-nos do passado
O fardo de carregar as mágoas do passado, não importa
quão traumático, fica cada vez mais pesado com a idade. Não podemos suportar
isso sem apagar a alegria; ou melhor, podemos suportá-lo com o bálsamo de cura
da alegria. Com olhos claros, podemos lembrar nossas mágoas, mas segurá-las
envoltas em compaixão, como se esquecidas. Raiva, mágoa e desespero são
liberados para o terninho perdão. O peso do passado se torna leve como o dia do
meio dia, oferecendo sabedoria e conectividade.
6. Gratidão:
tenho a sorte de estar vivo
Estudo após estudo revela que a gratidão é o segredo
de uma vida feliz, independentemente das circunstâncias. Ela nos ajuda a
cumprimentar cada momento com admiração, surpresa e possibilidade. A gratidão
nos motiva e nos conecta. Chamamos a Eucaristia, A Grande Ação de Graças,
porque conecta os membros da comunidade uns aos outros e a Deus e nos motiva a
servir o mundo.
7. Compaixão: algo em que queremos tornar-nos
Pensar em termos de "eu" aumenta nosso
sofrimento, mas aliviar o sofrimento dos outros alivia nosso próprio sofrimento.
Em uma palavra, compaixão é cuidado e preocupação com o sofrimento de outras
pessoas sem controle ou com a necessidade de consertá-lo. Ela incorpora as palavras finais de Jesus:
"Estou com vocês sempre." (Mt 28:20).
8.
Generosidade: estamos cheios de alegria
Quer alegria? Faça outra pessoa feliz. É profundamente gratificante contribuir e ser generoso com os outros. A generosidade está no centro de nossa humanidade e se manifesta de três maneiras: doação ou serviço material, doação ou cura protetora e doação ou amor espiritual. Lembrar que é mais difícil receber do que dar, que nem todos aceitarão sua generosidade: dê tudo, não se contenha, esvazie-se e mais voltará para você, mais do que você jamais sonhou ser possível.
Ministério em Ação
Ação 1. Faça uma festa! Convide uma variedade de pessoas, aquelas fáceis de ter por perto e algumas que representam um desafio para você. E faça o que fizer, divirta-se!
Ação 2. "Treino da felicidade de
cinco minutos" da autora Nataly Kogan, que consiste nos seguintes
exercícios:
1. Aceitação: reserve dois minutos para ficar quieto e
silencioso. Durante esse tempo, observe como você está sem se julgar. Esteja
presente aos seus sentimentos e aceite seu estado atual, seja ele negativo ou positivo.
Aceite que não há problema em não se sentir bem ou estar bem. O que importa não
é como você está, mas como você se aceita e tem compaixão de si.
2. Gratidão: capture duas ou três coisas
pelas quais você é grato e anote-as ou compartilhe-as com alguém. O bispo sueco Krister
Stendahl observa que não podemos/não devemos ser gratos por tudo, mas a cada
momento existe algo pelo qual podemos ser gratos.
3. Gentileza: faça ou planeje fazer um ato intencional
de gentileza para alguém. Isso pode ser algo tão simples
quanto entrar em contato com alguém, perguntar como está e expressar
companheirismo.
4. Conecte-se a um senso de significado: faça a pergunta "por
que" por trás de algo na sua lista de "tarefas a fazer". Como e o que você precisa
fazer para ajudar alguém?
5. Autocuidado: diga algo gentil, solidário ou compassivo consigo mesmo. Ou descanse construtivamente, ou seja, faça algo "não produtivo", como tirar uma soneca ou caminhar, dançar, cantar, desenhar. Aproveite o não fazer “nada” como um presente para si mesmo. Você tem facilidade de fazer isso?
Exercício de bônus 6. Pratique a compaixão das lentes: Conecte-se, mesmo que apenas em
pensamentos, a
alguém que o desafie, alguém que possa ter machucado você ou discorde de você
ou que, na sua opinião, cause danos ao mundo. Reconheça que essa pessoa também sofre e expressa seu
sofrimento de maneiras prejudiciais. Reconheça sua humanidade comum e envie
energia positiva.
Refletir
1. O que te dá
alegria? Descreva um momento em que você sentiu grande alegria em sua vida.
2. O que bloqueia sua alegria? O que desbloqueia sua alegria? Quando triste, como você pode desbloquear a alegria?
3. Das três notas, humildade, amor e alegria, qual marca é mais óbvia em sua vida? Qual é o mais problemático? Explicar.
Resumo das Lições 7-18
A humildade, o amor e a alegria que marcam as vidas dos terciários e das terciárias são todas elas graças dadas por Deus. Elas não podem ser conseguidas pelo esforço humano. Elas são dádivas do Espírito Santo. O propósito de Cristo é operar milagres através daquelas pessoas que almejam se esvaziar e se entregar a Ele. Nós nos tornamos, então, canais de graça através dos quais a obra poderosa de Cristo se realiza. (Os Princípios, Dia 30)
Personalize
sua regra
Depois de lutar com esta lição, que mudanças ou acréscimos você pode fazer no ponto número 10 de sua Regra de Vida com base nos Princípios da TSSF? A Terceira Nota, Alegria, da Regra Básica da Vida (ou em uma área apropriada, se você estiver seguindo a regra tradicional de 9 pontos) para torná-la mais adequada às suas circunstâncias particulares? Discuta com seu companheiro ou sua companheira espiritual.