terça-feira, 23 de agosto de 2016

Tempo para a Criação - 1º de setembro a 4 de outubro

Tempo para a Criação 2016
Rezar e cuidar da criação
Pessoas cristãs de todo o mundo oram e cuidam da criação, juntas
Em 1989, a Igreja Ortodoxa proclamou o 1º de setembro como o Dia Mundial de Oração pela Criação, e, desde então, muitas outras igrejas cristãs se juntaram e o dia foi expandido para ser uma temporada, até 4 de outubro, na data da Festa de São Francisco de Assis.
O “Tempo para a Criação” tornou-se um evento ecumênico desenvolvido pelo Conselho Mundial de Igrejas, com o objetivo unir as igrejas num chamamento para observar e viver uma temporada de oração, reflexão sobre o cuidado e o uso justo dos dons da natureza que recebemos de Deus.
Mais recentemente, em 2015, após ter lançado a Carta Encíclica Laudato Si - Sobre o cuidado da casa comum, o Papa Francisco instituiu o 1º de setembro como o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. Cada vez mais a iniciativa do Dia ou da Temporada da Criação ganha força para conclamar as pessoas cristãs de todo o mundo a orar e cuidar da criação, juntas. Assim testemunhamos nossa fé no cuidado da criação e, da forma mais original e sincera, podemos louvar e bendizer o nome de Deus criador e defensor da vida.
O arcebispo de Cantuária, Justin Welby pediu aos anglicanos para se juntar aos cristãos em todo o mundo e tomar parte nesta campanha:
"O resultado da mudança climática não é potencialmente ruim, é potencialmente fatal, para os países e regiões do mundomais frágeis, e para os bilhões de pessoas que vivem nelas."
E o que pode ser feito durante o Tempo para a Criação?
Orar para que o Espírito Santo nos oriente nas palavras e ações em defesa da vida;
Montar equipe de planejamento de diaconia e cuidado da vida;
Procurar membros e lideranças de outras denominações cristãs em nossas cidades para propor um culto ecumênico, seguido de outras ações em conjunto. Provocar o diálogo;
Propor, marcar eventos que chamem atenção para a campanha Tempo para a Criação. Existem meios de divulgação e tudo o que for realizado, por menor que seja, é importante divulgar para contagiar mais pessoas a se somar e acreditar que é preciso orar e cuidar da criação juntos.Podem ser realizados eventos fora da data de 1º de setembro.Cada evento pode ser registrado no site <http://seasonofcreation.org>. Todo e qualquer evento que for organizado, visando a campanha, é importante que sejam convidadas pessoas para falar, orar e facilitar o debate, certificando-se de ter uma diversidade de denominações representadas, se possível.Seria importante que todo evento da campanha culminasse com uma chamada para ações concretas de continuidade. Lembre-se que é preciso avaliar e celebrar as realizadas.
AGIR PELA CRIAÇÃO: Além de orar, há uma necessidade urgente de medidas para combater a crise ecológica.
Fonte: Cristãos oram e cuidam da criação, juntos. (http://seasonofcreation.org)

Tempo para a Criação - (1º de setembro a 4 de outubro)
III Semana Franciscana da Diocese Meridional - (04 a 11 de outubro de 2016)

Retiro e Caminhada Ecológica – Caminhando com Clara e Francisco
Data: 08 de outubro de 2016
Local: municípios de Stº. Antônio da Patrulha e Caraá(entre Evaristo e Quebrada, próximo da nascente do Rio do Sinos)
Comunidades: Paróquia São Mateus, Ponto Missionário Emanuel e Missão do Advento.
Tema: Rezar e cuidar da criação, JUNTOS.

Movimento Francisclariano e TSSF - Diocese Meridional - IEAB

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Paz: fruto da Justiça, do Amor e da Integridade da Criação

por Pilato Pereira
Clara e Francisco de Assis marcam a história da humanidade como extraordinários referenciais de vida, especialmente para os dias atuais, quando nos propomos a lutar pela superação violência e construção sólida da paz.
São Francisco costumava saudar as pessoas com a saudação de paz e sempre anunciava, pregava a paz (1Cel 23, 7). Tanto que hoje temos o costume franciscano de saudarmo-nos uns aos outros com a saudação de “Paz e Bem!”, que também é pronunciada em várias línguas, expressando a universalidade do carisma franciscano (Pax et Bonum - Pace e Bene - Peace andAllGood - Paix et Bien - Paz e Bem - Paz y Bien). A Regra de vida da Ordem de São Francisco de Assis nos pede para sempre anunciar a paz (RB 3, 14). Mas não só anunciá-la da boca para fora e sim sermos portadores da paz, ser pacíficos (RB 3,12).
Francisco foi, sem dúvida, um construtor de relações de paz. Foi um pregador da penitência e da paz, como diz Celano: “Em todas as pregações, antes de propor aos ouvintes a palavra de Deus aos que estavam reunidos, invocava a paz dizendo: ‘O Senhor te dê a paz’. Anunciava-a sempre a homens e mulheres, aos que encontrava e aos que lhe iam ao encontro. Por esta razão, muitos que tinham desprezado a paz, como também a salvação, pela cooperação do Senhor abraçaram a paz de todo o coração, fazendo-se também eles filhos da paz, desejosos da salvação eterna” (1Cel 23, 6-8). Celano também fala dos primeiros seguidores, entre eles “Frei Bernardo, abraçando a legação - missão - da paz correu alegremente a traz do santo de Deus” (1Cel 24, 2).
Santa Clara, da mesma forma que Francisco, também tinha a paz como um valor em vida. Sempre procurava transmitir e comunicar palavras de paz (cf.BnC 4). E desejava a paz para si mesma, porque queria realmente ser portadora da paz. Pela oração cultivava a paz em sua alma (cf. LSC 46). Olhando para o modo de vida assumido por Clara e Francisco, temos a convicção que, para o carisma Francisclariano, a paz é fruto da justiça, do amor e da integridade da criação.
A verdadeira superação da violência acontece na medida em que vivemos uma vida de paz. Nos dias de hoje, a maioria das pessoas vive preocupada com a realidade de violência que, no Brasil, é considerada uma verdadeira epidemia. E as maiores vítimas são os jovens. Mais grave ainda é quando constatamos que esta violência está entranhada em nossas relações, gerando uma “cultura” da violência, do medo e da insegurança. Para superar esta violência precisamos construir uma “cultura da paz”, através de relações mais amorosas e solidárias em todos os ambientes em que convivemos.
A sociedade brasileira entrou no grupo das sociedades mais violentas do mundo. Hoje, o país tem altíssimos índices de violência urbana (violências praticadas nas ruas, como assaltos, sequestros, extermínios, etc.); violência doméstica (praticadas no próprio lar); violência familiar e violência contra a mulher, que, em geral, é praticada pelo marido, namorado e etc. Precisamos descobrir onde está a raiz do problema.
E diante do clamor pela busca de solução, o governo tem se precipitado muito e em geral vem usando ferramentas erradas e conceitos errados na hora de entender o que é causa e o que é consequência. A violência que mata e que destrói está muito mais para sintoma social do que doença social. Deve ser trata a causa da doença e não a doença em si. E, pelo que se tem constatado, não adianta apenas armar a segurança pública, lhes entregando armas de guerra para repressão policial se a “doença” causadora não for identificada e combatida na sua raiz.
Já é tempo de a sociedade brasileira se conscientizar de que, violência não é ação. Violência é, na verdade, reação. O ser humano não comete violência sem motivo. É verdade que algumas vezes as violências recaem sob pessoas erradas, (pessoas inocentes que não cometeram as ações que estimularam a violência). No entanto, as ações erradas existiram e alguém as cometeu, caso contrário não haveria violência.
Em todas as partes do Mundo as principais causas da violência são: o desrespeito, a prepotência, crises de raiva causadas por fracassos e frustrações, crises mentais (loucura consequente de anomalias patológicas que, em geral, são casos raros). Exceto nos casos de loucura, a violência pode ser interpretada como uma tentativa de corrigir o que o diálogo não foi capaz de resolver. A violência funciona como um último recurso que tenta restabelecer o que é justo, segundo a ótica do agressor. Em geral, a violência não tem um caráter meramente destrutivo. Na realidade, tem uma motivação corretiva que tenta consertar o que o diálogo não foi capaz de solucionar. Portanto, sempre que houver violência é porque, alguma coisa já estava, anteriormente, errada. É essa “coisa errada”, a real causa, é que precisa ser corrigida para diminuirmos, de fato, os diversos tipos de violências. Em primeiro lugar a superação da violência está na promoção ou melhoria do diálogo (Cf. DUTRA).
Quando o assunto é diálogo, temos um fato muito significativo na vida de Francisco de Assis, que é seu encontro com o Sultão em Damieta, Egito (cf. 1Cel 57; LP 37). Numa época de cruzadas dos cristãos contra os sarracenos, chamados de “cães” e “depravados”, que ocupavam a Terra Santa, Francisco assume postura de respeito e procura evitar combates. Acompanhado de um confrade, foi ao encontro do sultão Malik-el-Khamil, de forma desarmada, pacífica, com motivação evangélica, com humildade, como um enviado “do Deus Altíssimo”. No início os dois foram agredidos, mas o sultão ficou impressionado e acabou tratando-os com muita cortesia e afeição e até os convidando para que permanecessem no seu acampamento. Podemos dizer que Francisco encontrou no Sultão um “crente”, um irmão da fé no Deus único. O Sultão descobriu em Francisco um homem cortês, fraterno, um irmão e não um inimigo. No mesmo período (1219-1220), alguns seguidores de São Francisco vão ao Marrocos e em Marrakech, se apresentando como enviados do papa e pregam contra Maomé e acabam sendo mortos pelo próprio Sultão.
No caso de Francisco podemos dizer que, o que aconteceu, foi o milagre do diálogo fraterno, do respeito, da cortesia e do amor gratuito. É importante salientar que Francisco fez isso sem esconder sua identidade cristã e, ao mesmo tempo, se deixou evangelizar pelo Sultão. Depois voltou para Assis, a sua cidade, nutrindo profundo respeito pelos muçulmanos, inclusive, inserindo na primeira regra as orientações de como ir entre os “infiéis” (Rnb 16). Em Marrakech, com os frades que vão e são mortos pelo Sultão, aconteceu o embate, sem encontro com o outro, com o diferente. Mas no caso de Francisco, em Damieta, ali aconteceu o encontro, o milagre da aproximação fraterna que o livrou da morte (Cf. SCHWERZ).
Francisco e Clara estavam em comunhão com o doador da paz, eles também vivem uma forte conexão entre contemplação e paz. Como destaca Frei Nestor Inácio SCHWERZ, “no eremitério dos Carceri encontra-se uma inscrição com a frase: ‘Ubi Deus ibi Pax’, (‘Onde está Deus, aí está a paz’)”. Clara e Francisco cultivam a paz a partir do encontro com Deus. Clara é radical na vivência e busca da paz. Ela, inclusive, propõe para a organização da sua Ordem um método de exercício do poder serviço, tendo como pressuposto a paz. A forma de como deveria acontecer a eleição e o oficio da abadessa era de se primar pela unidade e pela paz. Era um acontecimento marcado pelo diálogo (cf. RSC 4,22-24), que é eficaz na edificação da paz.
Clara e Francisco de Assis nos ensinam que, através do diálogo fraterno e no exercício da justiça, do amor e da integridade da criação, é possível superar a violência e construir, de forma sólida, a paz que sonhamos. Paz e Bem!

Referência bibliográfica:
SCHWERZ, Frei Nestor Inácio Ofm. A Mística da Paz em Francisco e Clara Disponível em:
www.franciscanos.org.br/?p=24384
DUTRA, Valvim M. Causas da Violência no Brasil. Extraído do capítulo 9 do livro Renasce Brasil.

Pilato Pereira é noviço da Terceira Ordem da Sociedade de São Francisco (TSSF) e presbítero na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB); professor de Teologia e no magistério público estadual (RS); Bacharel em Teologia pela ESTEF de Porto Alegre; Licenciado em Filosofia pelo UNILASALLE de Canoas/RS; Pós-graduado em Espiritualidade e Ecologia pelo ITF de Petrópolis/RJ; Mestre em Teologia Sistemática pela PUCRS, com pesquisas nas áreas de Ecoteologia e Ecumenismo. Autor do livro “O Irmão dos Pobres: Antônio Cechin, uma biografia”. Porto Alegre: ESTEF, 2009. (www.pilatopereira.eco.br – pilatopereira@gmail.com)